“Menino
de Engenho” - José Lins do Rego,
“Menino de Engenho” foi o primeiro romance
de José Lins do Rego, publicado em 1932. Posteriormente consagrado na
Literatura Brasileira, Lins apontava na obra a realidade nordestina e suas
dificuldades, com uma linguagem moderna que deixava claro as tensões sociais
entre os personagens, assim como o ambiente decadente e triste no qual vivia.
Inicialmente, a intenção do escritor era fazer de “Menino do Engenho” uma obra
biográfica que contasse a vida de seu avô, o coronel José Paulino, considerado
por Lins uma grande figura patriarcal nordestina. Ainda nutria o desejo de
torná-la de certa forma autobiográfica, revendo cenas de sua infância que não
esquecera, mas a imaginação de romancista falou mais forte, recriando a
realidade com diversas novas informações que acreditou serem pertinentes para o
romance. A ideia de Lins deu certo, pois a obra se tornou importantíssima no
cenário literário nacional, até mesmo tornando-se item de leitura obrigatória
para muitos vestibulandos.
A
triste infância do garoto órfão
A mãe de Carlinhos, Clarisse, era uma mulher
meiga e doce, tida por muitos como um anjo. Seu pai vivia entre transtornos
psiquiátricos e grandes explosões que fazia Clarisse sofrer, mas ao ver as
lágrimas e juras de arrependimento do marido, logo o perdoava. Certa manhã,
quando Carlos tinha apenas quatro anos de idade, ouviu-se um grande barulho que
acordou o menino. Ao levantar-se para ver o que ocorrera, viu a mãe caída no
chão coberta de sangue, e seu pai chorando sobre ela como um louco. Quis
aproximar-se de sua mãe, mas imediatamente houve um grande tumulto entre os
empregados e a chegada da polícia, onde fecharam o quarto e colocaram todos
para fora, inclusive o menino. Ele ouviu uma conversa entre os empregados, na
qual diziam ter visto seu pai como uma arma nas mãos, e sua mãe já caída. O pai
de Carlinhos foi levado preso, e o menino foi levado para viver com seu avô
materno, o coronel José Paulino, maior proprietário de terras da localidade. Ao
chegar à fazenda, lembrou-se de quantas vezes sua mãe a comparou com um
paraíso, mas ele nunca pôde visitá-la devido ao relacionamento difícil que seu
avô materno tinha com seu pai. Com muita alegria foi recebido por todos, que
estavam ansiosos para vê-lo. Sua tia Maria – irmã mais nova de Clarisse –
acabou acolhendo-lhe como a um filho.
Perdas
que o tornaram frio
Conheceu na fazenda o engenho, toda a
maquinaria e plantações de cana do local, ficando encantado, já que nunca antes
vira nada igual. Tornou-se amigo dos primos e com eles passava o dia fazendo
traquinagens, nadando em riachos e brincando na lama. Lili, uma prima de
cabelos loiros, olhos azuis e pele branca sem igual, tornou-se grande amiga de
Carlinhos, passando a ser a companhia preferida do primo. A menina era doente,
numa manhã vomitou algo escuro e chamou por Carlinhos, que logo fora tirado do
quarto. Lili havia falecido. Muitas vezes o garoto acabava se isolando, caçando
passarinhos para deixarem presos enquanto era acompanhado por sua solidão.
Ganhou do avô e dos tios um carneiro para montar, juntamente com as rédeas e a
sela. Chamou-o de Jasmin, o qual se tornou seu fiel companheiro. Dava banho no
carneiro com sabonete e lhe penteava a lã por horas. Cavalgava pela fazenda e
ia com Jasmin até a casa dos empregados para brincar com seus filhos.
O
crescimento sem imposição de limites
Embora fosse querido por todos, Carlinhos
era criado sem qualquer repressão por parte da família, não recebendo a devida
atenção e cuidado que lhe eram devidos diante de tudo o que passara até então.
Buscava fotografias de mulheres nuas entre os objetos de seus tios, tendo
despertado precocemente o interesse por sexo e outros “assuntos proibidos”. A
falta de orientação fez dele um garoto viciado e corrompido aos doze anos de
idade. Nessa idade teve sua primeira relação sexual com a negra Zefa Cajá, com
a qual se tornou homem. Através dela contraiu uma “doença de homem”, “doença de
mundo”. Lutou contra a doença e tentou escondê-la, mas aos poucos sua situação
tornou-se conhecida por todos, que riam dele. A princípio chateou-se, mas
depois passou a ter orgulho de sua doença, já que todos os tratavam como um
quase homem, não havia mais pudor entre o que poderia ou não ser dito perto
dele.
Os primos foram proibidos de com Carlinhos
brincarem, e o menino temia tornar-se um doente, desequilibrado mental, assim
como seu pai. Tornava-se cada dia mais depravado e pervertido, indo até o rio
para ver as mulheres tomarem banho e ter saciada sua curiosidade.
Oportunidade
de mudar de vida
Sua Tia Maria casou-se, e assim ele perdeu
mais uma mãe. Teve preparado seu enxoval para começar seus estudos na escola:
camisas novas, calças e ciroulas estavam prontas, pois o menino ficaria num
colégio interno. Tinha para si que lá poderia realizar o desejo de sua mãe, e
seguir o conselho de seu avô – a quem tinha como um deus – de que o estudo
jamais seria fruto de arrependimento. No internato chegou conhecido como alguém
que possuía “alma mais velha que o corpo”.
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