Noite
na Taverna - Álvares de Azevedo
Noite na Taverna é obra do escritor
brasileiro Manuel Antônio Álvares de Azevedo, nascido em São Paulo no ano de
1831. Descendente de ilustre família, Álvares se tornou um poeta e escritor
adepto do romantismo, extremamente culto, considerado por muitos um gênio
precoce. Lançou a referida obra em 1878, a qual se tornou um grande clássico da
Literatura Brasileira, embora contenha contos macabros, fantasiosos e
escabrosos. Trata-se de uma escura e tempestuosa noite, onde jovens boêmios se
encontram em uma taverna com mulheres bêbadas e mundanas, que adormeceram por
sobre as mesas, tamanha embriaguez. Por desafio, cada um deles conta uma narrativa
verdadeira e bizarra que tenha vivido. Dessas narrativas o livro é composto,
dividindo-se em sete capítulos, sendo eles: “Uma Noite do Século”, “Solfieri”,
“Bertram”, “Gennaro”, “Claudius Hermann”, “Johann” e “Ultimo Beijo de Amor”.
Álvares de Azevedo viveu um sucesso relâmpago, do qual pouco pôde desfrutar, já
que faleceu aos vinte e um anos de idade, vitimado por complicações da
tuberculose.
1ª Parte – Uma Noite do Século
A primeira parte da obra pode ser
considerada uma espécie de apresentação dos personagens, do clima boêmio que os
cercava, do ambiente da taverna e da época em que viviam. Iniciam debates sobre
suas opiniões pessoais a cerca das mulheres, da libertinagem e de Deus. É
palpável o clima vampiresco e sombrio que, não bastasse pertencer ao próprio
local, os personagens incitam ainda mais. Assim, desafiam-se a contar as
histórias mais macabras que cada um tenha vivido, dando início a relatos sobre
necrofilia, incestos e outras atrocidades. O primeiro a iniciar seu relato é
Solfieri.
2ª Parte – Solfieri
Solfieri era um jovem alcoólatra, e seu
relato tem inicio em Roma, quando viu o vulto de uma mulher que o atraiu
instantaneamente. Ele passa a seguir o vulto, mesmo sem saber para onde ia, e
sem conseguir distinguir corretamente a fisionomia de quem ele seguia. Suas
memórias são interrompidas e, na manhã seguinte, Solfieri amanhece em um
cemitério, onde passou a noite debaixo de frio e chuva. Intrigado, ele parte e retoma
sua rotina. No entanto, nenhum beijo, nenhum amor o satisfazia, ele precisava
encontrar a mulher do vulto. Durante um ano foi atordoado por essas lembranças,
quando após uma longa orgia, saiu pelas ruas extremamente bêbado e foi parar
novamente em um cemitério, diante de um caixão entre aberto. Ao olhar para
dentro do caixão, reconheceu a defunta: era a mulher cujo vulto ele perseguira.
Ele lhe tomou em seus braços, a despiu e fez amor com ela. Levou-a para sua
casa e descobrira que na realidade a mulher não estava morta, era apenas uma
depressiva que sofria de catalepsia. Ela acordou, teve alguns delírios mas,
após dois dias veio realmente a falecer. Solfieri fez para ela um túmulo em sua
própria casa, e mandou que fizessem uma estátua de cera da mulher que tanto
amara.
3ª Parte – Bertram
Bertram era dinamarquês, e seu relato girava
em torno de uma mulher chamada Ângela que, segundo ele, o levou a bebedeira e a
matar seus próprios amigos. Entre encontros e desencontros, os dois sempre
procuraram manter o caso, mesmo quando Ângela já havia se casado com outro
homem e se tornado mãe. Certa vez, Bertram recebe um chamado desesperado de
Ângela e, ao chegar a sua casa, percebe que ela havia matado seu marido e
filho, pois as traições haviam sido descobertas por seu marido, e agora ela
dizia que desejava fugir com Bertram. Fogem juntos, mas Ângela se envolve em
diversas orgias e o abandona, seguindo caminhos diferentes. Bertram tenta o
suicídio, mas é salvo por um navio e acaba se apaixonando pela mulher do comandante.
Em meio a uma tempestade, o navio naufraga e os três sobreviventes, Bertram, o
comandante e sua mulher tiram a sorte para decidir que morrerá. O comandante
perde e serve de alimento para seus traidores por dias, até que a mulher
enlouqueceria e seria morta por Bertram, que posteriormente seria novamente
salvo por um navio inglês.
4ª Parte – Gennaro
Gennaro era um belo e jovem pintor, mas
desonrado e incapaz de respeitar o sentimento alheio. Tornou-se aprendiz do
pintor Godofredo Walsh, que o levou para sua casa e passou a criá-lo como um
filho. Godofredo era casado com a bela Nauza, de 20 anos, e morava também com
Laura, sua filha de 15 anos, fruto de seu primeiro casamento. Laura era pura e
inocente, mas apaixonou-se por Gennaro, que durante 3 meses a desonrou, até que
ela engravidou. Grávida, Laura implorava para que Gennaro se casasse com ela,
mas ele lhe negou, pois havia se apaixonado por Nauza. Indignada, Laura perde a
razão de viver e enfraquece até morrer. Gennaro se torna amante de Nauza. Certa
noite, Godofredo o chama para sair e partem rumo a um despinhadeiro. O
experiente pintor começa a contar sua própria vida, e deixa claro que sabia ter
sido traído duas vezes por Gennaro, primeiro com Laura e agora com Nauza. O
joga do despinhadeiro, mas o jovem é salvo ao ficar preso em uma árvore. É
socorrido por camponeses, mas decide voltar para vingar-se de Godofredo, quando
o encontra morto com Nauza em casa: ele a havia matado, e então se suicidou.
5ª Parte – Claudius Hermann
Hermann era um homem obstinado e
persistente, não poderia agir diferente quando viu uma bela mulher cavalgando
diante dele: era a duquesa Eleonora. Passou a persegui-la, até que comprou de
um de seus criados a chave de seu castelo e, todas as noites, lhe passava nos
lábios uma droga para que não acordasse, enquanto ele a possuía. Seguiu-se
assim por um mês, até que decidiu raptá-la. Quando a duquesa acordou,
desesperou-se e quis voltar para seu castelo, mas hesitou, pois, desonrada,
ninguém a perdoaria. No entanto, ao chegar a casa, a encontrou morta em sua
cama, e junto a ela outro corpo: o do duque Maffio, seu marido traído e
abandonado, que a havia encontrado para por fim a vida dela e dele próprio.
6ª Parte – Johann
Johann era, além de alcoólatra, viciado em
jogatina. Sua história se inicia em Paris, quando por divergências do jogo,
decide duelar com seu amigo Artur. O amigo lhe pede que, caso morra, Johann
entregue para sua mãe uma carta que estava em seu bolso, e retire também um
bilhete com dados para um encontro marcado. Como previsto, Artur morre e Johann
decide se passar por ele no encontro. Bêbado, Johann leva para a cama a
namorada de Artur e faz amor com ela, mas ao sair do quarto, no escuro, é
atacado por um homem. Mata o indivíduo e o leva para a luz, para ver quem
tentava lhe atacar. Em terror, nota que matou o próprio irmão. Entra então para
o quarto, acende as luzes e percebe que a moça com quem havia feito amor era
sua própria irmã.
7ª Parte – Último Beijo de Amor
Após cada um contar seu relato, todos caem
no sono. Entra então uma mulher vestida de negro com uma lanterna na mão, como
se procurasse alguém. Ao avistar Johann, lhe crava um punhal em seu pescoço,
matando-o. Era a irmã de Johann, que após ter sido por ele desonrada, tornou-se
prostituta e decidiu vingar-se daquele que destruíra sua vida. A moça desperta
Arnold, que imediatamente a reconhece, lhe pede um beijo de despedida, e se
mata próximo ao corpo de Johann. Horrorizado, Arnold crava o punhal em si
próprio, e seu corpo cai em cima do corpo da prostituta.
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