“O Bom Crioulo” - Adolfo Caminha


“O Bom Crioulo” - Adolfo Caminha
Stefanie Mouret
“O Bom Crioulo” é uma importante obra literária do escritor Adolfo Caminha, publicada em 1895. É o primeiro livro na história da Literatura Brasileira onde é narrado um romance homossexual. Como um grande naturalista, Caminha defendia determinantemente a tese de que o ambiente era responsável por moldar o caráter do homem. Assim, relatava como um homem bom e de caráter ao viver num ambiente sujo e pernicioso poderia se tornar uma besta fera fora de controle. Desafiando os pudores de sua época, Adolfo Caminha aborda a insanidade mental, a degradação e principalmente, a falta de controle diante da sexualidade exposta – o que chocou a muitos na ocasião de sua publicação. Narrado em terceira pessoa, o romance “O Bom Crioulo” tornou-se um marco da literatura nacional, por sua coragem e clareza em narrar fatos que ninguém jamais se atrevera a abordar. 

O recomeço de um homem bom

O protagonista da obra é Amaro, um negro forte que fugira da escravidão e conseguira se alistar na Marinha. Gentil com todos, Amaro se tornou um marinheiro exemplar e recebeu o apelido de Bom Crioulo. Para alguns, estar na Marinha era apenas mais um ciclo da vida, mas para Amaro não: ele sempre sonhara em navegar em alto mar, em sentir-se importante diante da imensidão das águas, e agora lá estava ele, numa embarcação. Durante toda a vida o negro havia se envolvido apenas com uma mulher, o qual não deu certo e cada um seguira seu caminho. Na embarcação Amaro conhecera outro marinheiro, Aleixo, que era exatamente o seu oposto: branco, olhos azuis e de uma fragilidade impressionante. O bom crioulo tomou Aleixo por seu protegido, mas seus sentimentos iam além de uma amizade: Amaro o desejava sensualmente, e assim descobre sua real inclinação. 

Vivendo um tórrido romance

Ao desembarcarem no Rio de Janeiro, Amaro lembra-se de uma conhecida chamada Dona Caroline, que é proprietária num sobradinho onde aluga quartos. Planeja alugar um quarto discreto para encontrar-se com Aleixo, e assim ocorre. Durante um ano vivem como dois amantes, trabalhando no mesmo navio e concretizando o romance no quartinho alugado sempre que desembarcavam. Ocorre que após certo tempo, Amaro foi transferido para outro navio, no qual poderia desembarcar apenas uma vez por mês. Por ser conhecido como um excelente marinheiro, era requisitado e precisaria ficar mais tempo em alto mar. Decidira, porém, que manteria o quartinho alugado para encontrar-se com Aleixo na folga mensal que teria. 

Traição e mágoa

Quando Aleixo recebe sua primeira folga sem Amaro e chega ao quartinho vazio, o que o faz imaginar quão interessante poderia ser encontrar outro homem. Já estava habituado com relações homossexuais por causa de Amaro, e sabia que era bonito, então provavelmente não teria dificuldades. No entanto, Aleixo acabou por ser seduzido por Dona Caroline. Ela fora a primeira mulher de sua vida, e eles se desejavam fortemente.

Quando Amaro conseguiu sua folga, rapidamente foi ao quartinho e o encontrou vazio. Imaginando que havia sido traído, sai pensando em envolver-se com alguma mulher e esquecer Aleixo. Porém, bebe demais e perde o controle de si mesmo, tornando-se uma verdadeira fera. Entra numa briga e encontra um capitão de sua embarcação, que o leva preso e lhe dá como castigo na manhã seguinte cento e cinquenta chibatadas, as quais de tão sofríveis levaram o crioulo para o hospital.

Internado, Amaro mandou um bilhete pedindo que Aleixo o visitasse, mas não obteve resposta. O jovem rapaz branco estava envolvido com Dona Caroline e desejava esquecer o negro, de quem guardava até certa mágoa. No hospital, o negro sentia saudades, ciúmes, ódio e raiva por Aleixo. Inconformado com a situação, decide fugir e buscar o homem por quem se apaixonara. 

O fim do bom crioulo que se tornou mau

Ao chegar à Rua da Misericórdia, vai a uma padaria que ficava em frente ao sobradinho de Dona Caroline, descreve a ela e Aleixo buscando informações. Escuta boatos de que eles estavam envolvidos e costumavam passear à noite. Completamente transtornado, Amaro fica na rua aguardando Aleixo, até que o avista e segue em sua direção. Furioso, Amaro segura Aleixo e lhe culpa pela sua situação, por suas chibatadas e nota o rapaz cada vez mais acovardado. Inicia-se uma grande confusão com diversos populares aglomerados em volta para saber o que ocorria. De repente Dona Caroline aparece na janela para ver o que está ocorrendo, quando vê o negro descer a rua preso por policiais, enquanto o corpo ensanguentado e frouxo de Aleixo era retirado do meio da multidão.

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