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Hora Da Estrela - (Clarice Lispector)
A HORA DA ESTRELA - Este é o último romance de
Clarice Lispector, o ponto final de uma carreira que, iniciada em 1944, com
Perto do Coração Selvagem, constituiu um dos momentos mais altos da literatura
brasileira moderna. A autora, que em geral primou pela sondagem da psicologia
profunda das personagens, neste livro nos apresenta um comovente drama em que,
surpreendentemente, as molas da ação têm natureza e inspiração social. A
personagem feminina é descrita com grande lirismo e, sob seus traços
nordestinos de mulher ingênua, delineia-se todo um contraponto bíblico. Quando Macabéa
se vê prestes a realizar seu grande sonho de mulher, atravessando uma rua da
metrópole (nada bíblica), encontra subitamente a morte na velocidade de um
automóvel. O tom lírico da narrativa se tinge enfim de tragédia.
O estilo, ao contrário da maior parte dos livros
anteriores da autora, é marcado por uma preocupação narrativa de caráter mais
objetivo, situando a personagem em seus hábitos, seu espaço social, seu ideário
romântico.
Publicado dois meses antes da morte de sua autora, esse conto-de-fadas às avessas, ao mesmo tempo que registra a fraca vida de Macabéa, compondo uma narrativa exterior, explícita, também questiona, ironiza e expõe as perplexidades da ficção contemporânea, através de um autor-narrador, Rodrigo S. M., que pretende captar no sentimento de perdição do rosto de uma nordestina, vista ao acaso em uma rua do Rio de Janeiro, a vida primária, que respira, respira, respira. Atormentado pela personagem que criou, mas que não conhece completamente, o narrador esbarra, a cada instante, nas diferenças de classe social e de gênero e, particularmente, nas possibilidades e limitações da linguagem, na ?agonia? do ato de escrever e na palavra que instaura, revela e esconde.
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