TEXTO:
Cultura de massa e cultura
popular
O poder econômico expansivo dos meios de
comunicação parece ter abolido, em vários momentos e lugares, as manifestações
da cultura popular, reduzindo-as à função de folclore para turismo. Tal é a
penetração de certos programas de rádio e TV junto às classes pobres, tal é a
aparência de modernização que cobre a vida do povo em todo o território
brasileiro, que, à primeira vista, parece não ter sobrado mais nenhum espaço
próprio para os modos de ser, pensar e
falar, em suma, viver, tradicionais e populares.
A cultura de massa entra na casa do caboclo e do
trabalhador da periferia, ocupando-lhe as horas de lazer em que poderia
desenvolver alguma forma criativa de autoexpressão; eis o seu primeiro tento.
Em outro plano, a cultura de massa aproveita-se dos aspectos diferenciados da
vida popular e os explora sob a categoria de reportagem popularesca e de
turismo. O vampirismo é assim duplo e crescente; destrói-se por dentro o tempo
próprio da cultura popular e exibe-se, para consumo do telespectador, o que
restou desse tempo, no artesanato, nas festas, nos ritos. Poderíamos, aqui,
configurar com mais clareza uma relação de aparelhos econômicos industriais e
comerciais que exploram, e a cultura popular, que é explorada. Não se pode, de
resto, fugir à luta fundamental: é o capital à procura de matéria-prima e de
mão de obra para manipular, elaborar e vender. A macumba na televisão, a escola
de samba no Carnaval estipendiado para o turista, são exemplos de conhecimento geral.
No entanto, a dialética é uma verdade mais séria do
que supõe a nossa vã filosofia. A exploração, o uso abusivo que a cultura de
massa faz das manifestações populares não foi ainda capaz de interromper para
sempre o dinamismo lento, mas seguro e poderoso da vida arcaico-popular, que se
reproduz quase organicamente em microescalas, no interior da rede familiar e
comunitária, apoiada pela socialização do parentesco, do vicinato e dos grupos
religiosos.
(Alfredo Bosi. Dialética da colonização. S. Paulo: Companhia das
Letras, 1992, pp. 328-29)
1.
(FCC-2016) Tomando como referências a cultura de
massa e a cultura popular, o autor do texto considera que, entre elas,
(A)
não há qualquer relação possível, uma vez que
configuram universos distintos no tempo e no espaço.
(B)
há uma relação de necessária interdependência,
pois não há sociedade que possa prescindir de ambas.
(C)
há uma espécie de simbiose, uma vez que já não é
possível distinguir uma da outra.
(D)
há uma relação de apropriação, conforme se
manifestam os efeitos da primeira sobre a segunda.
(E)
há uma espécie de dialética, pois cada uma delas
se desenvolve à medida que sofre a influência da outra.
2.
(FCC-2016) Atente para as seguintes
afirmações:
I. No primeiro parágrafo, afirma-se que a
modernização é determinante para a sobrevivência de algumas formas autênticas
da cultura popular.
II. No segundo parágrafo, a expropriação sofrida
pela cultura de massa é vista na sua concomitância com o desprestígio da
cultura popular.
III. No terceiro parágrafo, aponta-se a resistência
das manifestações de cultura popular, observadas em determinados círculos
sociais.
Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em
(A)
I.
(B)
II.
(C)
III.
(D)
I e II.
(E)
II e III.
3. (FCC-2016) Um mesmo fenômeno
é expresso pelos segmentos:
(A)
poder econômico expansivo e socialização do
parentesco.
(B)
aparência de modernização e forma criativa de
autoexpressão.
(C)
aspectos diferenciados da vida popular e reportagem popularesca.
(D)
aparelhos econômicos e a dialética é uma verdade mais séria.
(E)
o dinamismo lento e se reproduz quase organicamente.
4. (FCC-2016) Considerando-se o
contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
(A) reduzindo-as à função (1º. parágrafo) = incitando-as à
extrapolação.
(B) vampirismo (...) crescente (2º. parágrafo) = progressiva avidez.
(C) seu primeiro tento (2º.
parágrafo) = sua primitiva meta.
(D) estipendiado para o turista (2º.
parágrafo) = estilizado para o visitante.
(E) socialização do parentesco (3º.
parágrafo) = sociabilidade dos vínculos.
5. (FCC-2016) No 3º parágrafo, o autor vale-se do termo dialética para
indicar
(A) a dinâmica pela qual a
cultura popular ainda resiste à cultura de massa.
(B) a absoluta absorção que a
cultura de massa impõe à cultura popular.
(C) a contradição entre
interesse econômico e a macumba na televisão.
(D) o contraste entre
manifestações populares e relações de vicinato.
(E) o apoio que a cultura de
massa acaba representando para a popular.
6. (FCC-2016) Quanto à
concordância verbal, está inteiramente correta a frase:
(A) Devem-se ressaltar, nos
meios de comunicação, a constância com que promovem abusos, na exploração da
cultura popular.
(B) Nem mesmo um pequeno espaço
próprio querem conceder à cultura popular os que a exploram por interesses
estritamente econômicos.
(C) Restam das festas, dos
ritos e dos artesanatos da cultura
popular pouco mais que um resistente núcleo de práticas comunitárias.
(D) Muita gente acredita que se
devem imputar aos turistas a responsabilidade por boa parte desses processos de
falseamento da cultura popular.
(E) Produzem-se nas pequenas
células comunitárias, a despeito das pressões da cultura de massa, lento e
seguro dinamismo de cultura popular.
7. (FCC-2016) No segundo
parágrafo, o elemento sublinhado na construção
(A) ocupando-lhe as horas de lazer refere-se ao termo casa.
(B) eis o seu primeiro tento refere-se à expressão forma criativa.
(C) eis o seu primeiro tento refere-se à expressão cultura de massa.
(D) ocupando-lhe as horas de lazer refere-se à expressão cultura de
massa.
(E) eis o seu primeiro tento refere-se à expressão horas de lazer.
8. (FCC-2016) Está clara e
correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
(A) O autor considera que os
vínculos estabelecidos nas relações entre grupos sociais, firmadas pelo
parentesco ou pelo sentimento comunitário, ainda resistem à força dos meios de
comunicação de massa.
(B) Entende o autor de que, não
obstante hajam fortes pressões dos meios de comunicação de massa sobre elas, as
relações autenticamente populares podem resistir à tão pesada influência.
(C) Graças a aqueles laços
estabelecidos em relações de parentesco ou mesmo comunitárias, entre grupos
sociais mais estritos, a cultura popular ainda oferece sua firme capacidade de
resistência.
(D) Relações de parentesco e
laços comunitários, não obstante a força que caracterizam os meios de
comunicação de massa, ainda lhes resistem, preservando-se essa forma de cultura
popular.
(E) A cultura popular,
ingratamente pressionada pela cultura de massa, manifesta-se ainda sob a forma
de pequenos grupos cujos valores autênticos persiste o sentimento comunitário.
9. (FCC-2016) O poder econômico expansivo dos meios de comunicação
aboliu as manifestações da cultura popular e as reduziu a folclore para
turistas.
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, as formas verbais
resultantes serão:
(A) aboliram-se e têm sido reduzidas.
(B) têm sido abolidas e reduziram-se.
(C) vêm abolindo-as e vêm reduzindo-as.
(D) estão abolindo e estão reduzindo.
(E) foram abolidas e foram reduzidas.
10. (FCC-2010) A pontuação desta
frase está inteiramente correta:
(A) A dialética sendo uma
verdade mais séria, do que se costuma crer, manifesta-se no processo de
resistência, da cultura popular.
(B) De fato a cultura de massa
com a enorme força de que dispõe, costuma apropriar-se das formas da cultura
popular, inapelavelmente.
(C) A socialização, proveniente
das boas relações comunitárias constitui, sem dúvida, uma bela forma de
autopreservação, na cultura popular.
(D) As escolas de samba, nas
festas promovidas para turistas, constituem matéria-prima e mão de obra,
simultaneamente, para o capital.
(E) Costumam, as diferentes
manifestações de cultura popular, descaracterizar-se de vez que não resistem,
às pressões da cultura de massa.
Gabarito:
1.
- D
2. -
C
3. -
E
4. -
B
5. -
A
6. -
B
7. -
C
8. -
A
9. -
E
10.
- D
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