Coesão e Coerência:
Um dos problemas encontrados com mais frequência nos textos é a
falta de coesão e de coerência. É comum encontrarmos textos que iniciam com um
tema e terminam com outro, mostrando falta de unidade, falta de coerência. Além
da falta de coerência, há falta de coesão, o que torna, muitas vezes, os
períodos ininteligíveis.
Mas, o que é coerência e o que é coesão?
Comecemos pela organização textual. Todo texto é composto por uma
macroestrutura e uma microestrutura. A macroestrutura refere-se à coerência, ou
seja, à manutenção da mesma referência temática em toda extensão. Para que ela
exista é necessário:
a)
harmonia de sentido de modo a não ter nada ilógico, nada
desconexo;
b)
relação entre as partes do texto, criando uma unidade de
sentido.
c)
as partes devem estar inter-relacionadas;
d)
expor uma informação nova e expandir o texto;
e)
não apresentar contradições entre as ideias;
f)
apresentar um ponto de vista, uma nova visão de mundo.
Mas, a coerência é uma característica textual que depende da interação do texto, do seu produtor e daquele que procura compreendê-lo. Muito depende do receptor, de seu conhecimento de mundo, da situação de produção do texto e do grau de domínio dos elementos linguísticos constantes do texto. Veja no exemplo abaixo a falta desse domínio, o que parece tornar o texto incoerente.
Essa
incoerência, proposital neste caso, torna o texto uma piada.
§
- Eu gosto tanto de frango, mas tenho medo de gripe aviária.
§
- Ah, mas só dá na Ásia, responderam.
§
- Justo na parte de que eu mais gosto?
(Folha de São Paulo, 18 de março de 2006, p. E13).
Há diversos níveis de coerência:
a)
Coerência narrativa: respeito às partes da narrativa e à
lógica existente entre essas partes.
b)
Coerência argumentativa: respeito à estrutura argumentativa
e ao raciocínio argumentativo.
c)
Coerência figurativa: respeito à combinatória de figuras
para manifestar um dado tema. Por exemplo, dizer que tocavam uma música
clássica num baile funk.
d)
Coerência temporal: respeito às leis da sucessividade dos
eventos.
e)
Coerência espacial: respeito à compatibilidade entre os
enunciados do ponto da localização no espaço. Por exemplo, seria incoerente
dizer que 450 pessoas estavam na sala de estar do apartamento.
f)
Coerência no nível de linguagem: respeito à compatibilidade
entre personagens e receptor e seus respectivos níveis de linguagem. Um
personagem não escolarizado, dificilmente, produziria textos no padrão culto.
Portanto, a coerência deve ser entendida como um fator que se estabelece no processo de comunicação. A coerência não existe antes do texto, mas constrói-se simultaneamente à construção do texto, estreitamente relacionada com a intenção e conhecimentos dos interlocutores.
A microestrutura refere-se à coesão, ou seja, ligação das frases, concatenação entre as partes, traços morfossintáticos que garantem o encadeamento lógico. Para que o texto seja coeso, deve seguir pelo menos um dos mecanismos de coesão:
a)
Retomada de termos, expressões ou frases já ditas.
b)
Encadeamento de segmentos do texto, feito com conectores ou
operadores discursivos, tais como então, portanto, mas, já que, porque...
Veja o exemplo baixo:
As regras foram criadas para o bom funcionamento das
tarefas, portanto, aqueles que não as obedecerem serão punidos.
Ao encadear com conectores os segmentos do texto, devemos usá-los
de acordo com a relação que queremos dar a essa união. Por exemplo, se
quisermos passar a ideia de oposição, deveremos usar as conjunções
adversativas: mas, porém, contudo, todavia...
As conjunções, pronomes relativos, preposições, elementos
conectores, podem ser encontrados em qualquer gramática de língua portuguesa.
Há uma delas nas referências bibliográficas abaixo.
Referências Bibliográficas:
§
MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. São Paulo:
Atlas, 2007.
§
NETO, Pasquale Cipro. Nossa língua em letra e música. São
Paulo: Publifolha, 2003.
§
PLATÃO e FIORIN. Lições de texto: leitura e redação. 5 ed.
São Paulo: Ática, 2006.
§
SIQUEIRA, João H. Sayeg. O texto: movimentos de leitura,
táticas de produção, critérios de avaliação. São Paulo: Selinunte, 1990.
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