Os Sertões
Considerada uma das obras-primas da
literatura brasileira. Os Sertões - É um livro brasileiro de Euclides da Cunha e publicado em 1902, ano de sua
primeira edição, cinco anos após a campanha de Canudos, cujo trágico desfecho
Euclides da Cunha testemunhou como repórter de O Estado de São Paulo,
apresenta não só um completo relato da Campanha de Canudos, que foi a luta
sangrenta contra os fanáticos chefiados por Antônio Conselheiro, os quais
ameaçavam a segurança das cidades e povoações vizinhas, mas apresenta ainda um
admirável estudo da terra e do homem do sertão nordestino, das condições de
vida do sertanejo, da sua resistência e capacidade, de acordo com a visão de
Euclides da Cunha. Ele foi o único jornalista que atentou para a valentia dos
jagunços.
Trata da Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. Euclides da
Cunha presenciou uma parte desta guerra como correspondente do jornal O Estado
de São Paulo, e ao retornar escreveu um dos maiores livros já escritos por um
brasileiro. Pertence, ao mesmo tempo, à prosa científica e à prosa artística.
Pode ser entendido como uma obra de Sociologia, Geografia, História ou crítica humana. Mas não é errado lê-lo como uma
epopeia da vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a
incompreensão das elites governamentais.
O livro apresenta 646 páginas e está, pelo
índice, dividido em 10 capítulos.
§ A Terra (58 páginas)
§ O Homem (149 páginas)
§ A Luta (preliminares - 30 páginas)
§ Travessia do Cambaio (36 páginas)
§ EXPEDIÇÃO MOREIRA CÉSAR (65 páginas)
§ Quarta EXPEDIÇÃO (45 páginas)
§ Coluna SAVAGET (42 páginas)
§ O ASSALTO (67 páginas)
§ Nova fase da luta (37 páginas)
§ ULTIMOS DIAS (55 páginas)
A TERRA (58 páginas) - O autor começa descrevendo, geograficamente, o grande maciço central
brasileiro para chegar à região do Vaza-Barris, ao norte da Bahia, onde se
passou a Campanha de Canudos. Demarca-a, e descreve sua flora, sua formação
geológica e a influência do clima. Procura interpretar sua evolução geológica.
Estuda-lhe a hidrografia e a conformação orográfica. Volta a considerar o clima
da região expondo uma teoria sobre as secas. Descreve geograficamente as
caatingas com toda sua flora específica e a influência que elas sofrem dos
climas. Então chega ao “agente geológico notável – o homem que, reagindo
brutalmente contra a terra madrasta, vem, historicamente desnudando-o, fazendo
desertos. Considera as maneiras de combater os desertos com açudes, etc. Só
assim combateria o martírio que ali sofre o homem e que é consequência do
“martírio secular da Terra”. Com a descrição do sertão de Canudos sumaria toda
a fisiografia do Nordeste.
O HOMEM (149 páginas) - Inicia, expondo o autoctonismo do “homo americanus”. Depois considera
a influência da variabilidade mesológica nos três elementos essenciais de nossa
formação étnica, dando a gênesis das sub-raças, mestiças, do Brasil. Daí a
heterogeneidade racial brasileira e a impossibilidade de futura unidade de raça
entre nós, devido a particularidades específicas de cada elemento formador, tão
díspar. Para confirmar sua teoria cita exemplos em nossa
História.
Mostra o jagunço em sua gênesis, esparramando-se
do Maranhão a Bahia, passando pela gênesis do mulato. Expõe a função histórica
do Rio São Francisco na dinâmica social dos jagunços, descendentes de
paulistas, e no aparecimento dos vaqueiros que se insularam nas regiões do
interior. Nesse ponto surge Canudos, aglomerado de alimentos de uma
subcategoria étnica já constituída: o sertanejo do norte. Mas a mistura de
várias raças dá o tipo desequilibrado, possuidor da moralidade rudimentar das
raças inferiores. Insulados, ficaram porém livres de uma adaptação,
penosíssima, a um estágio social superior. Faz análises desses nossos patrocínios:
o sertanejo, o gaúcho, estabelecendo comparações entre eles. Fala sobre o
jagunço, as vaquejadas, a arribada.
Descreve as tradições dos vaqueiros, o estouro da
boiada, o folclore, a influência das secas, a religiosidade mestiça. Conclui
que as agitações sertanejas são baseadas no fanatismo. Canudos, por exemplo, é
uma agitação nordestina, baseada no fanatismo. Monte Santo já era um lugar
lendário. Daquela complexidade étnica e sob aquelas influências ecológicas e
sociológicas era inevitável o aparecimento de um Antônio Conselheiro.
Fizeram-no santo devido ao seu misticismo estranho, quase um feiticeiro. Ele
não deslizou para a loucura, porque o ambiente o amparou, respeitando-o.
Antônio Conselheiro descendia de cearenses do norte, de gente arrelienta que há
50 anos sustentava uma rixa de família. Infeliz no casamento-abandonado pela
esposa raptada por um policial, e por isso fulminado de vergonha - embrenha-se
nos recessos dos sertões, surgindo incógnito, missionário sombrio, no nordeste
baiano. Era produto condensado do obscurantismo de três raças, criando em torno
de si lendas que se espalhavam por toda aquela imensa região. A Igreja tentou
intervir, inutilmente. Canudos, que era um lugarejo obscuro antes da vinda do
Conselheiro, revivesse com sua chegada, em 1893, crescendo rapidamente, a pau a
pique, chegando a possuir 5000 casas, com 15000 a 20000 habitantes.
Todo sertanejo que ali chegasse tornava-se logo
um fanático. E, como muitos deles eram bandidos, saqueavam lugarejos,
conquistavam cidades vizinhas, depredando-as. Eram subchefes do Conselheiro;
José Venâncio, com 18 mortes; Pajeú e seu ajudante – de – ordens Lalau;
Chiquinho e João da Mota, Pedrão, cafuz brutal; Estevão, disforme, tatuado à
faca e à bala; Joaquim Tranca-pés; “Major” Sariema; o tragi-cômico Raimundo
Boca-Torta, do Itapicuru; o ágil Chico Ema; Norberto; o velho Macambira e seu
filho Joaquim; Villa-Nova; a figura ridícula, de mulato espigado, de Antônio
Beato, meio sacristão e meio soldado; e o chefe de todos João Abbade. Pregavam
contra a República, sem convicção, mais “como variante forçada ao delírio
religioso”. Um capuchinho lá estivera para converte-los todos. Nada conseguira.
Voltando, amaldiçoa a vida.
A LUTA – PRELIMINARES (30
páginas) - Uma desavença antiga com o Juiz de Direito de Juazeiro
e não entrega de madeira adquirida nessa cidade para o remate da igreja nova de
Canudos, em outubro de 1896, determinaram uma ameaça de assalto àquela cidade
por parte do Conselheiro. Ameaçados, o Juiz pediu ao Governador do Estado da
Bahia auxílio. Foi, então, enviada uma força de cem praças, da guarnição
estadual, para bater os fanáticos de Canudos. Essa 1ª Expedição de Canudos foi
comandada pelo tenente Manoel da Silva Pires Ferreira, que após longa caminhada
bivacou, exausta, em Uauá. Atacada de surpresa pelos soldados de Antônio
Conselheiro, abandona a luta. “O revés de Uauá requeria reação segura”. E.C. - A
2ª Expedição, comandada pelo major Febrônio de Brito, da força estadual, veio
melhor aparelhada, formada de 543 praças e 3 médicos. Seria a “1ª Expedição
regular” contra Canudos. Os fanáticos eram comandados por João Grande, João
Abbade, Pahejú, Macambira, pai e filho, José Venâncio e outros.
TRAVESSIA DO CAMBAIO (36
páginas) - A 2ª Expedição fez base em Monte Santo e muito
sofreu no ataque planejado, na Travessia do Cambaio, não conseguindo chegar até
o arraial de Canudos. Retirou-se em condições penosas.
EXPEDIÇÃO MOREIRA CESAR (3ª
expedição) (65 páginas) - A 3ª Expedição, comandada
pelo Coronel Antônio Moreira César, mais numerosa e melhor equipada que as duas
primeiras, fez base, também, em Monte Santo. Eram 1.300 combatentes, fartamente
municiados, com cerca de 350.000 cartuchos e 70 tiros de artilharia. Não
passava ideia de alguém um revés. O 1º encontro foi no ribeirão de Pitombas.
João Abbade, o “corta-cabeças” , estava no comando da defesa dos jagunços. Seguiram
e fizeram base no alto da favela, defronte Canudos, e daí avançaram sem
assegurar a retaguarda ou garantir os pontos perigosos da travessia. Na
investida contra a Tróia de taipas dos sertanejos tiveram de recuar. Nessa
retirada perderam o comandante Moreira César e pouco mais tarde seu substituto
Coronel Tamarindo que os jagunços ergueram, empalado, no galho seco de um
angico.
QUARTA EXPEDIÇÃO (45
páginas) - Alarmada com os resultados da luta toda envia
batalhões para combaterem os jagunços. Do Rio Grande do Sul, do Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, etc. seguiram
soldados regulares para enfrentar inimigo odioso. Eram 5.000 homens, em 6
Brigadas. As 1ª, 2ª e 3ª Brigadas eram comandadas pelo General João da Silva
Barbosa e as 4ª, 5ª e 6ª comandadas pelo General Cláudio do Amaral Savaget. O
general Artur Oscar era o comandante em chefe. As duas colunas partiram de
pontos diversos e deviam se encontrar em Canudos. Estavam com abundância de
material de guerra. A 1ª expedição foi na frente e tomou o caminho das
expedições anteriores. Repetiu-lhes erros. Acampada defronte Canudos sitiou o
arraial e, em conjunto com a brigada do General Savaget, investiu-o sem
sucesso.
COLUNA SAVAGET (42 páginas) - A coluna do General Savaget parira de Aracajú. Possuía 2.350 homens.
De Geremoabo a Canudos fazia marcha esclarecida e firme. A margem do
Vasa-Barris deu-se o 1° combate de Cocorobó, que termina com ataque dos
lanceiros em formidável carga de baionetas e fuga dos jagunços. No dia seguinte
a peleja continua, em combate renhidíssimo (Combate de Macambira) com a morte
do Tenente Coronel Sucupira. Unidas às duas colunas a guerrilha continuou,
crônica, em refregas furiosas e rápidas, longas reticências de calma,
pontilhadas de balas. Os jagunços atacaram a “matadeira”: 11 fanáticos
invadiram o centro do acampamento militar para destruir o canhão “Withworth 32”
que eles apelidaram “a matadeira”. Estavam comandados por Macambira. 10 foram
mortos a baioneta tendo um escapado miraculosamente, varando as fileiras
agitadas. As tropas aguardavam uma briga salvadora.
O ASSALTO (67 páginas) - As duas colunas, reunidas defronte Canudos, resolveram atacar. Delineou-se
o ataque. Eram 3.349 homens, divididos em cinco brigadas. Seguiram alta
madrugada. Tomaram posição de combate perigosíssima e impraticável. Quando a
luta começou levaram desvantagem. Caíram em desordem. Despencavam pelos cerros
abaixo. E os jagunços, invisíveis das tocaias e dos esconderijos, fulminavam as
brigadas. Sitiado o arraial a investida fora sem sucesso. Desorganizados os
batalhões cada um lutava pela sua vida. Nessas condições “eram por igual
impossível – o avançamento e o recuo”. Tiveram quase 1.000 baixas, entre mortos
e feridos. O General Artur Oscar avaliou o estado das coisas e pediu um corpo
auxiliar de 5.000 homens. Seguiu, então a Brigada Girard, dirigida pelo General
Girard. Eram 1.042 praças, 68 oficiais e 850.000 cartuchos Mauser. Essa brigada
não conseguiu repelir o inimigo! e a retaguarda tinha sido alvejada. Quando as
primeiras levas de feridos e mortos chagaram à cidade do Salvador a Nação
surpreendida, abalou-se! Não era possível!
NOVA FASE DA LUTA (37
páginas) - Novos reforços foram então enviados. Mais duas
brigadas, com o total de 3.000 homens, uma entregue ao comando do Coronel
Sampaio e outra ao General Carlos Eugênio de Andrade Guimarães. E o próprio
Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt foi para o teatro de
operações. Conhecedor frio da arte de combater e descobrindo os motivos das
derrotas anteriores, conseguiu a vitória da 4ª Expedição e aniquilamento de
Canudos. Só fez usar o bom senso aplicado à técnica militar, transmudando
aquele conflito enorme, pródigo de inúteis bravuras, numa campanha regular.
Alguns chefes jagunços já haviam desaparecido: Pajehú, João Abbade, Macambira,
José Venâncio. Restavam Pedrão, Norberto e outros. A 22 de agosto de 1897
falecia Antônio Conselheiro. Os jagunços já não resistiam; recuavam. Canudos
estava bloqueado. A insurreição estava morta. (Fazendo parte do reforço estava
um batalhão policial de São Paulo, ao qual Euclides da Cunha se agregou como
observador para o campo da luta).
ÚLTIMOS DIAS (55 páginas) - Fato imprevisto: o inimigo, agônico, reage inesperadamente e
vigorosamente. Mas logo depois decai a reação, atingindo o desenlace. Os
soldados da República impunham às vítimas cenas cruéis: “Agarravam-nas pelos
cabelos, dobrando-lhes a cabeça, esgargalhando-lhes o pescoço e francamente
exposta a garganta, degolavam-n’as” ou “enleado o pescoço da vítima num
cabresto, estrangulavam ou esfaqueavam”. Rivalizavam-se aos jagunços em
barbaridades. A 28 de setembro Canudos não respondeu às duas salvas de vinte
tiros. Era o fim. Foi dinamitada com 90 bombas nesse dia, terminando em
incêndio. Entregou-se o Beatinho e entregaram-se as mulheres e crianças. Fez-se
pequena trégua depois da qual recomeçou o tiroteio. “Canudos não se rendeu”,
resistiu até o esgotamento completo.
Estilo: Considerada uma obra pré-modernista, o estilo de Os
sertões é conflituoso, angustiado, torturado. Dá a impressão de sofrimento
e luta. O autor faz uso de muitas figuras de linguagem, às vezes omite as
conjunções (assindetismo), outras repete-as
reiteradamente (polissindetismo). Ocorre, com
frequência, a mistura de termos de alta erudição tecno-científica com regionalismos populares e neologismos do próprio autor.
Verifique se você entendeu bem a
historia. Certo ou Errado
1. Considerada
uma das obras-primas da literatura brasileira, Os
Sertões, publicada em 1902, ano de sua primeira edição, cinco anos
após a campanha de Canudos, cujo trágico desfecho Euclides da Cunha testemunhou
como repórter de O Estado de São Paulo.
2. É
uma narrativa sobre um grupo de fanáticos religiosos e não só descreve a
sociedade, mas também a geografia, geologia, e zoologia plana do sertão
brasileiro.
3. Dividida
em seis subtítulos (Preliminares, Travessia do Cambaio, Expedição Moreira César, Quarta Expedição, Nova Fase da Luta e Últimos Dias).
4. As
autoridades de Juazeiro se recusam a mandar a madeira que Antônio Conselheiro
adquirira para cobrir a casa dos jagunços,
5. O autor começa descrevendo, geograficamente, o grande
maciço central brasileiro para chegar à região do Vaza-Barris, ao norte da
Bahia, onde se passou a Campanha de Canudos.
6. A
primeira parte, o homem, descreve o personagem principal da ação, o sertanejo.
7. A primeira expedição com 500
homens, comandados pelo tenente Pires Peneira, são surpreendidos e derrotados
pelos jagunços no povoado de Uauá.
8. A segunda expedição com mil homens, comandados
pelo major Febrônio de Brito e organizados em colunas maciças, são emboscados
pelos jagunços em terrenos acidentados, no Morro do Cambaio.
9. A descrição minuciosa das condições
geográficas e climáticas do sertão, de sua formação social: o sertanejo,
o jagunço, o líder espiritual, e do conflito entre
essa sociedade e a urbana, mostra-nos um Euclides cientificista.
10. A quarta expedição
- Cinco mil homens, comandados
pelos generais Artur Oscar, João da Silva Barbosa e Cláudio Savaget, são
enviados pelo sul. As tropas dividem-se em duas colunas. A primeira é cercada
pelos jagunços no Morro da Favela e tem de se socorrer da segunda coluna que,
vitoriosa em Cocorobó, havia mudado de estratégia, dividindo-se em pequenos
batalhões. As duas colunas tentam um ataque maciço. Conseguem tomar boa parte
do arraial, mas os soldados mal resistem à fome e à sede.
Gabarito:
1. Certo
2. Certo
3. Certo
4. As
autoridades de Juazeiro se recusam a mandar a madeira que Antônio Conselheiro
adquirira para cobrir a igreja de Canudos.
5. Certo
6. Errado
- A primeira parte, A Terra,
descreve o cenário em que se desenrolou a ação.
7. Errado
- A primeira expedição - Cem
homens, comandados pelo tenente Pires Peneira.
8. A segunda expedição - Quinhentos
homens, comandados pelo major Febrônio.
9. Certo
10. Certo
Simulado:
Os Sertões
01.
Sobre Os sertões, é
incorreto afirmar que:
a)
o
autor, militar em sua origem, desaprova a causa dos sertanejos.
b)
apresenta
certa dificuldade em termos de enquadramento em um único gênero literário.
c)
sua
linguagem tende ao solene, com vocabulário erudito e tom grandiloquente.
d)
origina-se
de reportagens para O Estado de S. Paulo, nas quais o autor expõe fatos relacionados
à Guerra de Canudos.
e)
Euclides
da Cunha segue um esquema determinista na estrutura das três partes da obra.
TEXTO:
Em marcha para Canudos
Foi
nestas condições desfavoráveis que partiram a 12 de janeiro de 1897. Tomaram
pela Estrada de Cambaio. É a mais curta e a mais acidentada. Ilude a princípio,
perlongando o vale de Cariacá, numa cinta de terrenos férteis sombreados de
cerradões que prefiguram verdadeiras matas. Transcorridos alguns quilômetros,
porém, acidenta-se; perturba-se em trilhas pedregosas e torna-se menos
praticável à medida que se avizinha do sopé da serra do Acaru. (...) Tinha meio
caminho andado. As estradas pioravam crivadas de veredas, serpeando em morros,
alçando-se em rampas caindo em grotões, desabrigadas, sem sombras... (...)
Entretanto era imprescindível a máxima celeridade. Tornava-se suspeita a
paragem: restos de fogueira à margem do caminho e vivendas incendiadas, davam
sinais do inimigo.
02.
Todas as afirmativas que seguem estão
associadas ao trecho selecionado de Os sertões,
em que os homens se dirigem para o local do embate, exceto:
a)
Atenção
e rapidez são necessárias numa trajetória que leva os viajantes a uma
experiência belicosa.
b)
A
presença do inimigo é percebida pelos rastros de sua passagem ainda recente.
c)
Os
obstáculos que se apresentam prenunciam os trágicos eventos que ocorrerão.
d)
Pelo
assunto do trecho, é possível inferir que se trata de um episódio constante na
segunda parte da obra.
e)
A
estrada referida perturba a avaliação inicial do viajante dada a riqueza
natural da área.
TEXTO
... E
surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba
inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um
hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apoia o
passo tardo dos peregrinos. É desconhecida a sua existência durante tão longo
período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos últimos dias da campanha,
disse-me algo a respeito, mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores
característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco, um ou dous anos depois
da partida do Crato.
03. A
viagem de Euclides da Cunha à região de Canudos, onde ocorre a revolta dos
seguidores de Antônio Conselheiro:
a)
ratifica
sua posição em relação aos fanáticos rebeldes, expressa em seu artigo A
nossa vendéia.
b)
impulsiona-o
a produzir Os sertões, baseando-se somente no que realmente pôde presenciar.
c)
demove-o
da concepção determinista vigente na época, que concebe o homem como um
cruzamento de condicionamentos.
d)
retifica
a opinião vigente, passando a considerar a revolta como resultante do atraso da
nação.
e)
influencia
a prosa do autor, antes impregnada de cientificismo e reacionarismo.
04. Considere as seguintes afirmações sobre Os sertões, de Euclides da Cunha.
I.
Nas duas primeiras partes do livro, o autor
descreve, respectivamente, o homem e o meio ambiente que constituíam o sertão
baiano, valendo-se, para tanto, das teorias científicas desenvolvidas na época.
II.
Ao descrever os sertanejos, o autor idealiza
suas qualidades morais e físicas e conclui que seu heroísmo era resultado da fé
nos ensinamentos religiosos do líder Antônio Conselheiro.
III.
O autor descreve, na terceira parte do
livro, as várias etapas da Guerra de Canudos e denuncia o massacre dos
sertanejos pelas tropas do exército brasileiro, revelando a miséria e o
subdesenvolvimento da região.
Quais estão corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e III
e)
I, II e
III
TEXTO
... E
surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba
inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um
hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apoia o
passo tardo dos peregrinos. É desconhecida a sua existência durante tão longo
período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos últimos dias da campanha,
disse-me algo a respeito, mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores
característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco, um ou dous anos depois
da partida do Crato.
05.
Com
relação à obra de que se extraiu o fragmento acima, é incorreto afirmar
que:
a)
apresenta cenário e paisagem idealizados, por se
tratar de um texto de cunho romântico.
b)
trata da campanha de Canudos e dos contrastes entre
o Brasil à beira do Atlântico e um outro, do sertão nordestino.
c)
denuncia o extermínio de milhares de pessoas no
interior baiano pelo exército nacional.
d)
contém uma visão de mundo determinista,
influenciada pelas ideias de Hypolite Taine.
e)
constrói um grande painel do sertão nordestino,
dividindo-se em três partes – A terra, O homem, A luta.
06. Assinale
com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre a obra Os sertões,
de Euclides da Cunha.
§
No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o
requinte da linguagem, a intenção científica e o propósito jornalístico.
§
A obra Euclideana insere-se numa tradição da
literatura brasileira que tematiza o povoamento do sertão, iniciada ainda no
Romantismo com Bernardo Guimarães.
§
Euclides da Cunha escreveu Os sertões com
base nas reportagens que realizou como correspondente do jornal O Estado de
S. Paulo.
§
Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia
criada pelo imaginário do autor.
§
O episódio de Canudos, retratado no texto de
Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de protesto surgidos logo após a
proclamação da Independência do Brasil.
a)
V – F – V – F – F
b) V – V – V – F – F
c) F – F – V – V – F
d)
F – V – F – F – V
e)
V – V – F – F – F
TEXTO
Daquela
data ao termo da campanha a tropa iria viver em permanente alarma. (...) A tática invariável do jagunço
expunha-se temerosa naquele resistir às recuadas, restribando-se* em todos os
acidentes da terra protetora. Era a luta da sucuri flexuosa* com o touro
pujante. Laçada a presa, distendia os anéis; permitia-lhe a exaustão do
movimento livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia
repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para relaxá-las de novo,
deixando-o mais uma vez se esgotar no escarvar*, amarradas, o chão; e novamente
o atrair, retrátil, arrastando-o - até ao exaurir completo...
*restribar – estar firme, estar
escorado.
*flexuoso – sinuoso, torcido,
tortuoso.
*escarvar – cavar superficialmente.
07. Assinale a alternativa incorreta em relação ao trecho.
a)
O
jagunço, ao aproveitar-se dos “acidentes da terra protetora”, conseguia
superar-se e confrontar-se com o inimigo, trazendo-lhe novas dificuldades.
b)
O
“touro pujante”, apesar de sua força, na ilusão do movimento livre, acaba se
exaurindo.
c)
No
confronto, a “sucuri flexuosa” vence, pois usa os recursos de que dispõe.
d)
No
trecho, a imagem da luta entre a “sucuri flexuosa” e o “touro pujante” é uma
metáfora da luta entre jagunços e expedicionários.
e)
A
“sucuri flexuosa” e o “touro pujante” estão em constante confronto sem que haja
um vencedor.
TEXTO
(...)
esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la
desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos,
transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe
o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.
08.
Assinale a frase que, retirada de Os sertões,
sintetiza o trecho citado.
a)
“é o
homem permanentemente fatigado”
b)
“o
sertanejo é, antes de tudo, um forte”
c)
“a raça
forte não destrói a fraca pelas armas, esmaga-a pela civilização”
d)
“Reflete
a preguiça invencível (...) em tudo”
e)
“a sua
religião é como ele – mestiça”
A seguir você lerá um fragmento de Os sertões de
Euclides da Cunha.
Então,
a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem um desafogo de um horizonte largo e a
perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe
o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o
com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e
desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore
sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando
rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar
imenso, de tortura, da flora agonizante...
09.
Com base no texto anterior, como se
caracteriza a natureza onde vive o sertanejo?
TEXTO
A
tropa chegou exausta a Uauá no dia 19, depois de uma travessia penosíssima.
Este arraial – duas ruas desembocando numa praça irregular – é o ponto mais
animado daquele trecho do sertão. Como a maior parte dos vilarejos pomposamente
gravados nos nossos mapas, é uma espécie de transição entre maloca e aldeia.
(...) Entrou pela rua em continuação à estrada e fez alto no largo. Foi um
sucesso. Entre curiosos e tímidos, os habitantes atentavam para os soldados –
poentos, mal firmes na formatura, tendo aos ombros as espingardas cujas
baionetas fulguravam – como se vissem um exército brilhante.
Ensarilhadas
as armas, a força acantonou. Fez-se em torno um círculo de vigilância:
postaram-se sentinelas à saída dos quatro caminhos e nomeou-se o pessoal das
rondas. Feito praça de guerra, o vilarejo obscuro era, entretanto, uma escala
transitória.
I.
A
referência ao registro cartográfico do lugar sugere contradição em relação à
verdadeira dimensão da área.
II.
O
povo recebe a tropa com reverência e admiração.
III.
Os
soldados reagem com indiferença à manifestação popular.
IV.
Os
soldados retornam ao lar após ferrenha batalha.
10. Pela
análise das afirmativas, conclui-se que somente estão corretas
a)
I e II
b) I e
III
c)
II e III
d) II e
IV
e) I e
IV
TEXTO
Fechemos
este livro.
Canudos
não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia
5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram.
Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos
quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos à tarefa de descrever
os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la
sempre profundamente emocionante e trágica, mas cerramo-la vacilante e sem
brilhos. Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma
perspectiva maior, a vertigem...
Ademais
não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se
amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares,
abraçadas aos filhos pequeninos?...
11.
Este trecho pertence à parte final da obra Os sertões.
a)
Qual o nome dessa parte?
b)
Transcreva a frase que comprova a admiração do
autor por Canudos.
c)
Transcreva o trecho que aponta para o descontrole
emocional dos soldados diante de tanta resistência.
d)
Por que o autor crê que o futuro não acreditaria em
sua obra?
Leia atentamente o seguinte trecho
de Os sertões.
O
calor úmido das paragens amazonenses, por exemplo, deprime e exaure. Modela organizações
tolhiças em que toda a atividade cede ao permanente desequilíbrio entre as
energias impulsivas das funções periféricas fortemente excitadas e a apatia das
funções centrais: inteligências marasmáticas, adormidas sob o explodir das
paixões; enervações periclitantes, em que pese à acuidade dos sentidos, e mal
reparadas ou refeitas pelo sangue empobrecido nas hematoses incompletas...
Daí
todas as idiossincrasias de uma fisiologia excepcional: o pulmão que se reduz,
pela deficiência da função, e é substituído, na eliminação obrigatória do
carbono, pelo fígado, sobre o qual desce pesadamente a sobrecarga da vida:
organizações combalidas pela alternativa persistente de exaltações impulsivas e
apatias enervadoras, sem a vibratilidade, sem o tônus muscular enérgico dos
temperamentos robustos e sanguíneos. A seleção natural, em tal meio, opera-se à
custa de compromissos graves com as funções centrais, do cérebro, numa
progressão inversa prejudicialíssima entre o desenvolvimento intelectual e o
físico, firmando inexoravelmente as vitórias das expansões instintivas e
visando ao ideal de uma adaptação que tem, como consequências únicas, a máxima
energia orgânica, a mínima fortaleza moral. A aclimação traduz uma evolução
regressiva. O tipo deperece num esvaecimento contínuo, que se lhe transmite à
descendência até a extinção total.
Os
sertões, parte II, cap. I
12.
Responda:
a)
Qual o princípio científico que serve de fundamento
para este trecho de Os sertões?
b)
Como a influência desse princípio aparece no texto?
c)
Essa influência nos permite tomar como ponto de
partida das concepções estéticas do livro um determinado estilo literário.
Qual?
TEXTO
Descrevendo aspectos da natureza do
sertão da Bahia, diz Euclides da Cunha:
Então,
a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a
perspectiva das planuras francas.
Ao
passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o;
enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas
urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e
desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado:
árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados,
apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um
bracejar imenso, de
tortura,
da flora agonizante...
Os
sertões, Parte I, cap. IV.
13. A
partir da leitura do texto, responda: qual o papel desempenhado pela natureza
em Os sertões?
14. As
passagens abaixo foram extraídas de Os
sertões. Escreva nos parênteses J (jagunço) ou M (militar), para
identificar a personagem referida em cada uma delas.
§ Tinha
o fetichismo das determinações escritas. Não as interpretava, não as criticava:
cumpria-as.
§ Pelos
caminhos fora passavam pequenos grupos ruidosos, carregando armas ou
ferramentas de trabalho, cantando.
§ Torturavam-nos
alucinações cruéis. A deiscência das vagens das catingueiras, abrindo-se com
estalidos secos e fortes, soava-lhes feito percussão de gatilhos ou estalos de
espoleta, dando a ilusão de súbitas descargas(...).
15. Avalie as declarações e transcreva, nas
linhas abaixo, as duas corretas sobre Os sertões.
I.
Nascem
da reportagem “A terra”, à qual se anexou “A luta”.
II.
Adotam
estilo de oratória religiosa, quando descrevem as crenças dos jagunços.
III.
Focalizam
episódios heroicos de viagem e guerra, a exemplo das construções épicas.
IV.
Desenvolvem
considerações de ordem científica, dando à narrativa um perfil de tese.
Quais são as declarações
corretas?
TEXTO
Completando
a tática perigosa do sertanejo, era temeroso porque não resistia. Não opunha a
rijeza de um tijolo à percussão e arrebentamento das granadas, que se
amorteciam sem explodirem, furando-lhe uma vez só dezenas de teto. Não fazia
titubear a mais reduzida secção assaltante, que poderia investi-lo, por
qualquer lado, depois de transposto o rio. Atraía os assaltos; e atraía
irreprimivelmente o ímpeto das cargas violentas, porque a arremetida dos
invasores, embriagados por vislumbres de vitória e disseminando-se, divididos
pelas suas vielas em torcicolos, lhe era o recurso tremendo de uma defesa
supreendedora. Na história sombria das cidades batidas, o humílimo vilarejo ia
surgir como um traço de trágica originalidade. Intacto – era fragílimo; jeito
de escombros – formidável.
Euclides da Cunha, Os sertões.
16. O fragmento acima aponta algumas das
características de Canudos. A leitura atenta desse texto nos permite concluir
que ele trata de:
a)
uma
vila fortificada, planejada para não permitir o acesso e as investidas dos
agressores.
b)
uma
ilha, pois era contornada pelo rio.
c)
um
vilarejo humilde, que não oferecia resistência à entrada dos invasores.
d)
um
local onde ocorriam muitos roubos e assaltos.
e)
um
refúgio de soldados assaltados.
17. Ainda de acordo com o texto da questão
anterior:
a)
a
ausência de resistência, característica marcante do conjunto de habitações, era
coerente com a tática do sertanejo.
b)
o fato
de um tijolo ser rijo não se opunha, em Canudos, ao arrebentamento das
granadas.
c)
os
assaltantes, sabedores de riquezas escondidas, eram atraídos pela vila.
d)
as
explosões de granadas furavam de uma só vez dezenas de tetos.
e)
o
sertanejo é perigoso e traiçoeiro.
TEXTO
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA
A busca de uma identidade nacional é preocupação
deste século - João Gabriel de Lima
1 Ao criar um livro, um quadro ou uma canção, o artista
brasileiro dos dias atuais tem uma preocupação a menos: parecer brasileiro. A
noção de cultura nacional é algo tão incorporado ao cotidiano do país que
deixou de ser um peso para os criadores. Agora, em vez de servir à pátria, eles
podem servir ao próprio talento. Essa é
uma conquista deste século. Tem como marco a Semana de Arte Moderna de 1922,
uma espécie de grito de independência artística do país, cem anos depois da
independência política. Até esta data, o brasileiro era, antes de tudo, um
envergonhado. Achava que pertencia a uma raça inferior e que a única solução
era imitar os modelos culturais importados. Para acabar com esse complexo, foi
preciso que um grupo de artistas de diversas áreas se reunisse no Teatro
Municipal de São Paulo e bradasse que ser brasileiro era bom. O escritor Mário
de Andrade lançou o projeto de uma língua nacional. Seu colega Oswald de
Andrade propôs o conceito de "antropofagia", segundo o qual a cultura
brasileira criaria um caráter próprio depois de digerir as influências
externas.
2 A semana de 22 foi só um marco, mas pode-se dizer que
ela realmente criou uma agenda cultural para o país. Foi tentando inventar uma
língua brasileira que Graciliano Ramos e Guimarães Rosa escreveram suas obras,
¤as mais significativas do século, no país, no campo da prosa. Foi recorrendo
ao bordão da antropofagia que vários artistas jovens, nos anos 60, inventaram a
cultura pop brasileira, no movimento conhecido como tropicalismo. No plano das
ideias, o século gerou três obras que se tornariam clássicos da reflexão sobre
o país. "Os Sertões", do carioca Euclides da Cunha, escrito em 1902,
é ainda influenciado por teorias racistas do século passado, que achavam que a
mistura entre negros, brancos e índios provocaria um
"enfraquecimento" da raça brasileira. Mesmo assim, é um livro
essencial, porque o repórter Euclides, que trabalhava no jornal "O Estado
de S. Paulo", foi a campo cobrir a guerra de Canudos e viu na frente de
combate muitas coisas que punham em questão as teorias formuladas em gabinete.
"Casa-Grande & Senzala", do pernambucano Gilberto Freyre,
apresentava pela primeira vez a miscigenação como algo positivo e buscava nos
primórdios da colonização portuguesa do país as origens da sociedade que se
formou aqui. Por último, o paulista Sérgio Buarque de Holanda, em "Raízes
do Brasil", partia de premissas parecidas, mas propunha uma visão crítica,
que influenciaria toda a sociologia produzida a partir de então.
"VEJA", 22 de dezembro, 1999. p. 281-282.
No texto, o jornalista selecionou duas expressões para se referir ao
autor de "Os Sertões": "do carioca Euclides da Cunha" e
"o repórter Euclides"
18.
Essa
escolha teve como efeito de sentido destacar
a) o contraste entre as crenças que o homem
Euclides da Cunha tinha e a realidade observada pelo jornalista Euclides da
Cunha.
b) a ironia presente no fato de o escritor
Euclides da Cunha, ficcionista, produzir um texto baseado num trabalho de campo
como repórter.
c) a potencialidade da língua portuguesa, que
possibilitou ao autor se referir a Euclides da Cunha através de expressões
diversas.
d) o descompasso entre as teorias formuladas em
gabinete e as teorias que influenciaram Euclides da Cunha.
e)
a
confirmação das posições ideológicas do cidadão Euclides da Cunha quando
exercia sua atividade de jornalista.
TEXTO
§
A -
"Até esta data, o brasileiro era, antes de tudo, um envergonhado."
§
B -
"No plano das ideias, o século gerou três obras que se tornariam clássicos
da reflexão sobre o país."
19.
Considere
o que se afirma sobre os fragmentos destacados.
I.
Em OS SERTÕES, Euclides da Cunha declara que
"o sertanejo é, antes de tudo, um forte". No fragmento A, o autor
retoma a declaração de Euclides da Cunha reafirmando seu conteúdo elogioso.
II.
Em B, a escolha de "século" como
sujeito torna a frase mais expressiva, porque contraria a expectativa de
encontrar essa palavra como parte de um adjunto adverbial de tempo.
III.
Em B, a opção por "o século gerou"
leva à associação com a idéia de criar, fecundar, o que reforça o sentido de
que o século XX propiciou a concepção das obras destacadas.
Está(ão) correta(s)
a)
apenas
I.
b)
apenas
II.
c)
apenas
III.
d)
apenas
II e III.
e)
I, II e
III.
20.
No
decênio de 1930 houve uma renovação do romance brasileiro de tema regional, que
passou de descritivo e sentimental a crítico e realista.
a) Lembre um romance que pode exemplificar essa
renovação. Justifique sua escolha com elementos desse romance.
b)
A obra
OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, está na gênese dessa transformação. Por quê?
21.
Assinale
a única alternativa INCORRETA a respeito da obra de Euclides da Cunha.
a) Em OS SERTÕES, o autor se utiliza de uma
linguagem preciosista e rebuscada, em que pontificam os termos emprestados à
ciência da época, os adjetivos exagerados e os verbos cuidadosamente
escolhidos.
b) OS SERTÕES é o produto final de um longo
trabalho de pesquisa bibliográfica, de uma engajada cobertura jornalística
realizada 'in loco' pelo autor e da revisão de anotações detalhadas feitas por
Euclides da Cunha durante sua estada no sertão baiano.
c) A utilização de personagens ficcionais lado
a lado com as figuras históricas que protagonizam os acontecimentos de OS
SERTÕES permite a Euclides da Cunha inserir suas impressões pessoais sobre o
episódio e, além disso, estabelece nexos entre as ações isoladas.
d) Nas duas primeiras partes de OS SERTÕES o
autor se mostra adepto das doutrinas científicas da época, que não viam com
bons olhos a mestiçagem e estabeleciam uma relação direta entre herança
biológica e progresso material dos povos.
e)
Na
última parte de OS SERTÕES, A LUTA, opera-se uma transformação do ponto de
vista do autor, que, graças à técnica narrativa utilizada, contagia o leitor:
inicialmente vistos como fanáticos, os sertanejos de Canudos conquistam o
respeito e a admiração.
22.
Considere
as seguintes afirmações sobre OS SERTÕES, de Euclides da Cunha.
I.
- Nas duas primeiras partes do livro, o
autor descreve, respectivamente, o homem e o meio ambiente que constituíam o
sertão baiano, valendo-se, para tanto, das teorias científicas desenvolvidas na
época.
II.
- Ao descrever os sertanejos, o autor
idealiza suas qualidades morais e físicas e conclui que seu heroísmo era
resultado da fé nos ensinamentos religiosos do líder Antônio Conselheiro.
III.
- O autor descreve, na terceira parte do
livro, as várias etapas da guerra de Canudos e denuncia o massacre dos
sertanejos pelas tropas do exército brasileiro, revelando a miséria e
subdesenvolvimento da região.
Quais estão corretas?
a)
Apenas
I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e)
I, II e
III.
23.
Sobre
"Os Sertões", é INCORRETO afirmar que:
a)
o
autor, militar em sua origem, desaprova a causa dos sertanejos.
b)
apresenta
certa dificuldade em termos de enquadramento em um único gênero literário.
c)
sua
linguagem tende ao solene, com vocabulário erudito e tom grandiloquente.
d)
origina-se
de reportagens para O Estado de São Paulo, nas quais o autor expõe fatos
relacionados à Guerra de Canudos.
e)
Euclides
da Cunha segue um esquema determinista na estrutura das três partes da obra.
TEXTO
"Livro posto entre
.........................., OS SERTÕES assinalam um fim e um começo: o fim do
imperialismo literário, o começo ........................... aplicada aos
aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições
contidas na diferença de cultura entre ...............)."
(Fonte CANDIDO, Antônio.
LITERATURA E SOCIEDADE.
24.
Assinale
a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto acima.
a) a literatura e a sociologia naturalista - da
associação onírica e simbolista - as regiões litorâneas e o interior
b) a literatura
e o panfleto pró-monárquico - da análise científica - a região nordeste
e o sul industrializado
c) a literatura e a sociologia naturalista - da
análise científica - as regiões litorâneas e o interior
d) a literatura e o panfleto pró-monárquico -
da associação onírica e simbolista - a região nordeste e o sul industrializado
e)
a
literatura e a sociologia naturalista - da associação onírica e simbolista - a
região nordeste e o sul industrializado
Observe a seguinte declaração sobre o Pré-Modernismo:
Creio que se pode chamar pré-modernismo (no
sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras
décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural.
BOSI, Alfredo. "História concisa da literatura
brasileira".
25. Atente
agora para o que se afirma a respeito de algumas obras e autores brasileiros e
assinale a alternativa cujo conteúdo NÃO contempla a síntese crítica de Alfredo
Bosi:
a) Um dos grandes temas de "Os
Sertões" é a denúncia que Euclides da Cunha faz sobre o crime que a nação
brasileira cometeu contra si própria na Guerra dos Canudos.
b) Monteiro Lobato imortalizou o personagem
Jeca Tatu, transformando-o no símbolo do caipira subdesenvolvido que vive na
indolência e pratica sempre a "lei do menor esforço".
c) Mário e Oswald de Andrade notabilizaram-se
como os grandes líderes da revolução de 22 e, portanto, do processo de ruptura
em relação à tradição intelectual, libertando a literatura brasileira da
"calmaria" em que se encontrava.
d) Lima Barreto expressou sempre o
inconformismo face às injustiças sociais e, na obra "Triste Fim de
Policarpo Quaresma", construiu uma imagem caricata do Brasil com todas as
suas contradições.
e)
Em
"Os Sertões", Euclides da Cunha opõe o homem do sertão ao homem do
litoral, acentuando-lhes as diferenças econômicas e socioculturais.
TEXTO
"(...)
esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la
desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos,
transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe
o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se."
26.
Assinale
a frase que, retirada de "Os sertões", sintetiza o trecho citado.
a) "é o homem permanentemente
fatigado"
b) "o sertanejo é, antes de tudo, um
forte"
c) "a raça forte não destrói a fraca pelas
armas, esmaga-a pela civilização"
d) "Reflete a preguiça invencível (...) em
tudo"
e)
"a
sua religião é como ele - mestiça"
Leia o trecho abaixo de "Os Sertões," de Euclides da Cunha.
“Daquela data ao termo da
campanha a tropa iria viver em permanente alarma”. (...) A tática invariável do
jagunço, expunha-se temerosa naquele resistir às recuadas, restribando-se* em
todos os acidentes da terra protetora. Era a luta da sucuri flexuosa* com o
touro pujante. Laçada a presa, distendia os anéis; permitia-lhe a exaustão do
movimento livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia
repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para relaxá-las de novo,
deixando-o mais uma vez se esgotar no escarvar*, a marradas, o chão; e
novamente o atrair, retrátil, arrastando-o - até ao exaurir completo...”.
§
*restribar
- estar firme, estar escorado.
§ *flexuoso - sinuoso, torcido, tortuoso.
§
*escarvar
- cavar superficialmente.
27.
Assinale
a alternativa INCORRETA em relação ao trecho.
a) O jagunço, ao aproveitar-se dos
"acidentes da terra protetora", conseguia superar-se e confrontar-se
com o inimigo, trazendo-lhe novas dificuldades.
b) O "touro pujante", apesar de sua
força, na ilusão do movimento livre, acaba se exaurindo.
c) No confronto, a "sucuri flexuosa"
vence, pois usa os recursos de que dispõe.
d) No trecho, a imagem da luta entre a
"sucuri flexuosa" e o "touro pujante" é uma metáfora da
luta entre jagunços e expedicionários.
e)
A
"sucuri flexuosa" e o "touro pujante" estão em constante
confronto sem que haja um vencedor.
28. Obra
pré-modernista eivada de informações histórias e científicas, primeira grande
interpretação da realidade brasileira, que, buscando compreender o meio áspero
em que vivia o jagunço nordestino, denunciava uma campanha militar que investia
contra o fanatismo religioso advindo da miséria e do abandono do homem do
sertão. Trata-se de:
a) O sertanejo, de José de Alencar.
b) Pelo sertão, de Afonso Arinos.
c) Os Sertões, de Euclides da Cunha.
d) Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
e) Sertão, de Coelho Neto.
29. Fazendo um paralelo entre Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães
Rosa, pode-se afirmar:
a)
Em
ambas as obras predomina o espírito científico, sendo analisados aspectos da
realidade brasileira.
b) Ambas têm por cenário o sertão do
Brasil setentrional, sendo numerosas as referências à flora e à fauna.
c)
Ambas
as obras, criações de autores dotados de gênio, muito enriqueceram a nossa
literatura regional de ficção.
d) Ambas têm como principal objetivo
denunciar o nosso subdesenvolvimento, revelando a miséria física e moral do
homem do sertão.
e) Tendo cada uma suas peculiaridades
estilísticas, são ambas produto de intensa elaboração de linguagem.
Gabarito:
1.
C
2. D
3. D
4. D
5. A
6. B
7. E
8. B
9.
A
estrada não é descrita, tendo em vista a riqueza natural da área, mas em seus
aspectos áridos e difíceis.
10. D
11.
a)
A
terceira parte de Os sertões, de Euclides da Cunha, denomina-se “A
luta”.
b)
“Canudos
não se rendeu”
c)
“(...)
rugiam raivosamente (...)”
d)
O que
descrevia era tão dolorosamente absurdo que poucos acreditariam.
12.
a) Determinismo.
b) Explicava as ações humanas a partir de
três fundamentos: o meio, a raça e o momento. A adesão de Euclides da Cunha às
teses deterministas aparece em vários pontos do livro. No trecho citado, o meio
ambiente (no caso, o clima quente) age de forma decisiva na determinação da
conformação moral dos habitantes (marcada pela apatia e pela incapacidade
natural ao trabalho intelectual).
c)
O
Naturalismo, cujas ideias tomavam por base concepções científicas, entre as
quais as do Determinismo.
13.
A
natureza é mostrada de forma viva e atuante (superando o sentido puramente
científico do relato), influenciando no desenrolar dos acontecimentos que
teriam lugar ali. As expressões que indicam a ação da natureza. são: “a
caatinga o afoga”, “agride”, “estonteia”, “enlaça”, “repulsa” etc. Repare que
essas imagens mostram uma natureza plena de contradições, que, ajuizadas, serão
as causas mais profundas da guerra que o livro narra.
14.
M – J – M
15.
III E IV
16.
C
17.
A
18.
A
19.
D
20.
a)
VIDAS
SECAS, de Graciliano Ramos, pois trata de forma crítica e realista do problema
da seca e da vida dura dos retirantes.
b)
Porque
se ocupa também de retratar criticamente a realidade, ainda que influenciado
pelo determinismo do século XIX.
21.
C
22.
D
23.
C
24.
C
25.
C
26.
B
27.
E
28.
C
29.
E
30.
A
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