Produção de Textos:
NARRAÇÃO - Narrar é contar um fato, um episódio; todo discurso
em que algo é CONTADO possui os seguintes elementos, que fatalmente surgem
conforme um fato vai sendo narrado:
Fato: Quando, como, onde, por que, que.
A representação acima quer dizer que, todas
as vezes que uma história é contada (é NARRADA), o narrador acaba sempre
contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa
narração predomina a AÇÃO: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim
sendo, maioria dos VERBOS que compõem esse tipo de texto são os VERBOS DE AÇÃO.
O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é
contada nesse tipo de texto recebe o nome de ENREDO. As ações contidas no texto
narrativo são praticadas pelas PERSONAGENS, que são justamente as pessoas
envolvidas no episódio que está sendo contado ("com quem?" do quadro
acima). As personagens são identificadas (=nomeadas) no texto narrativo pelos
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS. Quando o narrador conta um episódio, às vezes ( mesmo
sem querer) ele acaba contando "onde" (=em que lugar) as ações do enredo foram realizadas pelas
personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações é chamado de ESPAÇO, representado no texto
pelos ADVÉRBIOS DE LUGAR.
Além de contar onde, o narrador também
pode esclarecer "quando" ocorreram as ações da história. Esse
elemento da narrativa é o TEMPO, representado no texto narrativo através dos
tempos verbais, mas principalmente pelos ADVÉRBIOS DE TEMPO.
É o tempo que ordena as ações no texto
narrativo: é ele que indica ao leitor "como" o fato narrado
aconteceu. A história contada, por isso, passa por uma INTRODUÇÃO (parte
inicial da história, também chamada de prólogo), pelo DESENVOLVIMENTO do enredo
(é a história propriamente dita, o meio, o "miolo" da narrativa,
também chamada de trama) e termina com a CONCLUSÃO da história (é o final ou
epílogo). Aquele que conta a história é o NARRADOR, que pode ser PESSOAL (narra em 1a pessoa :
EU...) ou IMPESSOAL (narra em 3a. pessoa: ELE...).
Assim, o texto narrativo é sempre
estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar
e pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto,
ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos verbos, formando
uma rede: a própria história contada.
TEXTO
[…] No confuso rumor que se
formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde,
grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos
saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e
os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente,
espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma
aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as
coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço,
que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens,
esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário, metiam a cabeça
bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e
fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, eram
um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se
demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças
não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos
fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: Otto Pierre,
1979. p. 44-45.
01.
No trecho, as escolhas lexicais caracterizam as personagens como
a)
transgressoras, conforme relata o trecho “as crianças não se davam ao
trabalho de ir lá, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos”.
b)
seres inquietos, conforme indicam os sentidos produzidos pelos pares de
valor semântico opositivo “abrir e fechar” e “entrar e sair”.
c)
contempladoras da natureza, conforme sugere a menção às aves em “grasnar
de marrecos” e “cantar de galos”.
d)
animais, conforme demonstra a descrição das ações em “suspendendo o
cabelo para o alto do casco” e “esfregam com força as ventas”.
e)
indiferentes, conforme mostra a avaliação de seu comportamento em “uns,
após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água”.
Gabarito: D - Em “O cortiço”, Aluísio Azevedo desenvolve a
estética naturalista, vertente radical do Realismo que tem por característica
principal o zoomorfismo, que consiste em comparar personagens a animais quando
elas se deixam guiar pelos instintos e pelo meio em que vivem. As expressões
“suspendendo o cabelo para o alto do casco” e “esfregam com força as ventas”,
transcritas na alternativa [D] exemplificam essa característica.
Descrever é CARACTERIZAR alguém,
alguma coisa ou algum lugar através de características que particularizem o
caracterizado em relação aos outros seres da sua espécie. Descrever, portanto,
é também particularizar um ser. É "fotografar" com palavras. No texto
descritivo, por isso, os tipos de verbos mais adequados (mais comuns) são os VERBOS
DE LIGAÇÃO (SER, ESTAR, PERMANECER, FICAR, CONTINUAR, TER, PARECER, etc.), pois
esses tipos de verbos ligam as características - representadas linguisticamente
pelos ADJETIVOS - aos seres
caracterizados - representados pelos SUBSTANTIVOS. Ex. O pássaro é azul
. 1-Caractarizado: pássaro / 2-Caracterizador ou característica: azul / O verbo
que liga 1 com 2 : é
Num texto descritivo podem ocorrer
tanto caracterizações objetivas (físicas, concretas), quanto subjetivas
(aquelas que dependem do ponto de vista de quem descreve e que se referem às
características não-físicas do caracterizado). Ex.: Paulo está pálido
(caracterização objetiva), mas lindo! (caracterização subjetiva).
Além, muito
além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a
virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna
e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu
sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem
corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande
nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia
que vestia a terra com as primeiras águas.
(...) Iracema saiu do banho: o
aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva.
Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta
com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
ALENCAR,
José de, IRACEMA. 1956, p. 13.
Dissertar é refletir, debater,
discutir, questionar a respeito de um determinado tema, expressando o ponto de
vista de quem escreve em relação a esse tema. Dissertar, assim, é emitir
opiniões de maneira convincente, ou seja, de maneira que elas sejam
compreendidas e aceitas pelo leitor; e isso só acontece quando tais opiniões
estão bem fundamentadas, comprovadas, explicadas, exemplificadas, em suma: bem
ARGUMENTADAS (argumentar= convencer, influenciar, persuadir). A argumentação é
o elemento mais importante de uma dissertação.
Embora dissertar seja emitir opiniões,
o ideal é que o seu autor coloque no texto seus pontos de vista como se não
fossem dele e sim, de outra pessoa ( de prestígio, famosa, especialista no
assunto, alguém...), ou seja, de maneira IMPESSOAL, OBJETIVA e sem prolixidade
("encher linguiça"): que a dissertação seja elaborada com VERBOS E
PRONOMES EM TERCEIRA PESSOA. O texto impessoal soa como verdade e, como já
citado, fazer crer é um dos objetivos de quem disserta.
Na dissertação, as ideias devem ser
colocadas de maneira CLARA E COERENTE e organizadas de maneira LÓGICA:
a) o elo entre pontos de vista e
argumento se faz de maneira coerente e lógica através das CONJUNÇÕES
(=conectivos) - coordenativas ou subordinativas, dependendo da ideia que se
queira introduzir e defender; é por isso que as conjunções são chamadas de
MARCADORES ARGUMENTATIVOS.
b) Todo texto dissertativo é composto por
três partes coesas e coerentes: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO.
1. Transforme o tema numa pergunta;
2. Responda a pergunta ( e obtém-se o
PONTO DE VISTA);
3. Coloque o porquê da resposta ( e
obtém-se o ARGUMENTO).
TEXTO
"Vivemos numa época de
tamanha insegurança externa e interna, e de tamanha carência de objetivos
firmes, que a simples confissão de nossas convicções pode ser importante, mesmo
que essas convicções, como todo julgamento de valor, não possam ser provadas
por deduções lógicas.
Surge imediatamente a pergunta:
podemos considerar a busca da verdade - ou, para dizer mais modestamente,
nossos esforços para compreender o universo cognoscível através do pensamento
lógico construtivo - como um objeto autônomo de nosso trabalho? Ou nossa busca
da verdade deve ser subordinada a algum outro objetivo, de caráter prático, por
exemplo? Essa questão não pode ser resolvida em bases lógicas. A decisão,
contudo, terá considerável influência sobre nosso pensamento e nosso julgamento
moral, desde que se origine numa convicção profunda e inabalável Permitam-me
fazer uma confissão: para mim, o esforço no sentido de obter maior percepção e compreensão
é um dos objetivos independentes sem os quais nenhum ser pensante é capaz de
adotar uma atitude consciente e positiva ante a vida.
Na própria essência de nosso
esforço para compreender o fato de, por um lado, tentar englobar a grande e
complexa variedade das experiências humanas, e de, por outro lado, procurar a
simplicidade e a economia nas hipóteses básicas. A crença de que esses dois
objetivos podem existir paralelamente é, devido ao estágio primitivo de nosso
conhecimento científico, uma questão de fé. Sem essa fé eu não poderia ter uma
convicção firme e inabalável acerca do valor independente do conhecimento.
Essa atitude de certo modo
religiosa de um homem engajado no trabalho científico tem influência sobre toda
sua personalidade. Além do conhecimento proveniente da experiência acumulada, e
além das regras do pensamento lógico, não existe, em princípio, nenhuma
autoridade cujas confissões e declarações possam ser consideradas "Verdade
" pelo cientista. Isso leva a uma situação paradoxal: uma pessoa que
devota todo seu esforço a objetivos materiais se tornará, do ponto de vista
social, alguém extremamente individualista, que, a princípio, só tem fé em seu
próprio julgamento, e em nada mais. É possível afirmar que o individualismo
intelectual e a sede de conhecimento científico apareceram simultaneamente na
história e permaneceram inseparáveis desde então. "
(Einstein, in: "O
Pensamento Vivo de Einstein", p. 13 e 14, 5a. edição, Martin Claret
Editores)
02.
. No
primeiro parágrafo, o autor repete as palavras "tamanha" e
"convicções" para dar ao leitor a ideia de
a)
dúvida.
b)
ênfase.
c)
condição.
d)
proporção.
e) efeito.
Gabarito: B
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