Publicado
no ano de 1936, “Angústia”, de Graciliano Ramos, é um dos mais ricos e
importantes romances da Literatura Brasileira. No ano em que foi publicado, o
autor encontrava-se preso pelo governo de Getúlio Vargas, mas isso não foi
capaz de prejudicar seu sucesso. Por essa obra, Graciliano – conhecido pelos
amigos como Mestre Graça – consagrou-se um dos maiores escritores nacionais e
ganhou com o livro o prêmio “Lima Barreto” da Revista Acadêmica. Assim como
todos os seus outros romances, “Angústia” é uma tentativa do personagem
principal de autodestruição e ao mesmo tento de tentar preservar-se de si
próprio, sendo feita uma complexa e lenta imersão na consciência desse
personagem, que é totalmente tomado pelo ciúme, raiva e inveja até não mais
suportar e cometer um ato extremista. Sendo a última obra de uma considerada
trilogia do autor (composta ainda por “Caetés” (1933) e “São Bernardo (1934))”,
“Angústia” é narrada em primeira pessoa, relatando os estado da alma de
personagens que vivem num eterno questionamento com o mundo e com eles
próprios. É importante frisar que, por atingir numa única obra os campos
existenciais, sociais, metalinguísticos e psicológicos, a obra é comumente
exigida em provas, concursos e vestibulares, portanto vale a pena ler o resumo
abaixo e o próprio livro completo para preparar-se bem e manter o conhecimento
em alta.
Dois
são os temas centrais. Entrelaçam-se a leviandade e fraqueza moral da mulher e
o poder da corrupção do dinheiro.
Personagens
§ Luís da Silva,
protagonista e narrador, intelectual frustrado que sonha sempre que vai
escrever e ficar famoso com suas obras. Tem aversão aos abastados. Complexado,
tímido, acha-se feio, não consegue aceitar os amores e sensualidade dos outros,
julgando tudo grosseiro e animalesco. No entanto, vive querendo sentir o
cheiros das mulheres na rua e pensando indecências como ele mesmo diz.
§ Trajano, avô do
protagonista, fazendeiro em tempos antigos.
§ Camilo, pai do
protagonista, pessoa rude que para ensinar o filho a nadar enfiava-o dentro
d’água, segurando por um braço, até quase se afogar.
§ Marina, vizinha,
namorada do protagonista. Moça vaidosa e superficial, interesseira e vazia.
§ Julião Tavares,
antagonista de Luís da Silva. Sujeito gordo, vermelho. Era literato e bacharel.
Reacionário e católico. Aproveitando-se de sua condição econômica, seduz as
moças e depois as abandona, até que é assassinado por Luís da Silva.
§ Moisés, figura muito
interessante. É um judeu que não sabe cobrar, morre de vergonha de ter que cobrar
o amigo Luís.
§ Vitória, criada de Luís
da Silva, tem 50 anos de idade, cheia de pelancas no pescoço. Tem pelos no buço
e verrugas escuras. É muito feia.
§ D. Adélia, mãe de
Marina. Mulher sardenta, pessoa humilde.
§ Seu Ramalho, pai de
Marina. Pessoa quieta. É ele quem censura o comportamento da filha.
Angústia
Luís da
Silva nunca fora um homem que teve facilidades na vida. Nascido e criado em
Alagoas, tinha uma vida muito humilde quando seu pai faleceu, vivendo de favor
na casa de cada conhecido, totalmente desamparado, até começar a pedir esmolas
e dormir em bancos de praça. Tudo culmina para que seu fracasso aumente cada
vez mais, até que é aprovado num concurso público. Começa a trabalhar na
Diretoria do Tesouro, em Maceió, e para gerar uma renda extra, escreve artigos
sob encomenda para jornais locais.
O emprego
o faz conseguir ter uma vida minimamente razoável, pois o salário é baixo e as
dívidas são muitas, vivendo de forma precária numa casa decrépita assim como a
vizinhança, que se preocupava prioritariamente em cuidar da vida alheia.
Completamente – e até mesmo insanamente – apaixonado por Marina, sua vizinha,
inicia um relacionamento com ela e ficam noivos. A situação financeira do
personagem piora ainda mais, pois agora precisaria também gastar com o enxoval
do casamento que assumira.
A
personalidade de Luís da Silva é marcada por tudo o que vivera. Seu histórico
de vida, sua precária e pressionada criação e toda a opressão que lhe cercava
não o fizeram um homem submisso, que simplesmente abaixaria a cabeça para os
contratempos da vida sem questionar os motivos pelos quais vivia daquela
maneira. Seu desejo íntimo era de também oprimir, tanto quanto era oprimido.
Quando expressava opiniões sobre pessoas ou mesmo sobre outro assunto, revelava
um caráter amargurado e rude, como se durante toda a vida remoesse e ruminasse
suas decepções e tristezas. A sua existência poderia ser considerada ordinária,
não era relevante para outros, para a sociedade e nem para si próprio, mas seu
interior era deveras perturbador, sempre se atormentando por lembranças da
infância e frustrações intelectuais.
Julião
Tavares era um homem gordo, rico, risonho e conquistador. Luís da Silva não
poderia evitar odiá-lo, dada a discrepância entre as condições de cada um, mas
o ódio passou dos limites quando Tavares conquistou Marina. Encantada com a
vida que poderia ter ao lado de um homem rico, a moça simplesmente desmancha o
noivado com Luís, sem lhe dar qualquer explicação plausível.
A mágoa, a
decepção e o ódio que nutria aumentavam cada dia mais, fazendo crescer um Luís
um espírito de vingança perigoso. O personagem extremamente negativo e
pessimista ganha ainda mais motivos para nutrir seu desejo de vingança quando
descobre que sua amada e desejada Marina fora frivolamente seduzida por
Tavares, utilizada como um objeto qualquer e abandonada grávida, enquanto
Julião já estava relacionando-se com outra mulher.
Tirar a
vida de seu concorrente tornou-se para Luís um ato do qual ele não podia mais
escapar, e nem queria deixar de cometê-lo. Para ele seria uma questão de honra.
Assim, começa a trabalhar a ideia de matar Tavares incessantemente, até
concretizá-la estrangulando-o com uma corda. Para simular um suicídio, Luís o
pendura pela corda em um galho.
Narrando a
própria história, Luís confessa no fim da obra o homicídio que cometera, não
apenas pelo ódio contra o concorrente, mas também por toda a frustração e
angústia acumulada que sofrera em sua vida, libertando-se do rival ao matá-lo,
mas também das decepções que o rondavam.
Graciliano Ramos nasceu no
ano de 1892 e faleceu em 1953. Nascido em Alagoas, iniciou sua carreira como
prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, durante 1928 e 1930. Nesse período,
redigia relatórios críticos, concisos e irônicos ao mesmo tempo, despertando o
interesse de Augusto Schmidt, editor carioca que o animou para publicar sua
obra de estreia, “Caetés”. Tornou-se ainda mais grandioso ao publicar “Vidas
Secas” (1938), ganhando grande projeção nacional.
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