Desvendando os Eixos Cognitivos
Nas questões objetivas e na redação,
o aluno será avaliado em cinco eixos cognitivos, denominados anteriormente
de competências. Entenda o que significa cada um.
I. Dominar Linguagens
A competência I tem como propósito
avaliar se o estudante sabe “dominar a norma culta da língua portuguesa e fazer
uso das linguagens matemática, artística e científica e das línguas espanhola e
inglesa”. Dominar linguagens significa saber atravessar as fronteiras de um
domínio linguístico para outro. Essa competência requer do aluno a capacidade
de transitar da linguagem matemática para a linguagem da história ou da
geografia e desta para a linguagem artística ou científica. Significa, ainda,
ser competente para reconhecer diferentes tipos de discurso, sabendo usá-los de
acordo com cada contexto. O domínio de linguagens implica um sujeito capaz de
realizar leituras compreensivas de textos que se expressam por diferentes
estilos de comunicação, ou que combinem conteúdos escritos com imagens, “charges”,
figuras, desenhos, gráficos etc.
Dominar linguagens implica ainda um
aluno competente como escritor da realidade que o cerca, que saiba fazer uso
dessa multiplicidade de linguagens para produzir diferentes textos que
comuniquem uma proposta, uma reflexão, uma linha de argumentação clara e
coerente.
Por isso, dominar linguagens implica
trabalhar com seus conteúdos na dimensão de conjecturas, proposições e
símbolos. Neste sentido, a linguagem se constitui como o instrumento mais
poderoso de nosso pensamento, na medida em que ela lhe serve de suporte.
II. Compreender Fenômenos
O objetivo da competência II é
avaliar se o participante sabe “construir e aplicar conceitos das várias áreas
do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos
histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações
artísticas”.Construir é uma forma de domínio que, no caso das questões das
provas do Enem, pode implicar o exercício ou uso de muitas habilidades:
estimar, calcular, relacionar, interpretar, comparar, medir, observar etc. Em
quaisquer delas, o desafio é realizar operações que possibilitem ultrapassar
uma dada situação ou problema, alcançando aquilo que significa ou indica sua
conclusão. Construir, portanto, é articular um tema com o que qualifica sua
melhor resposta ou solução, tendo que, para isso, realizar procedimentos ou
dominar os meios, considerando as informações disponíveis na questão,
requeridos para isso. Compreender fenômenos significa ser competente para
formular hipóteses ou ideias sobre as relações causais que os determinam.
Ou seja, é preciso saber que um
determinado procedimento ou ação provoca certa consequência.
Para isto, é necessário
estabelecer relações entre as coisas, inferir sobre elementos que não estão
presentes em uma situação, mas que podem ser deduzidos, trabalhar com fórmulas
e conceitos. Nesse sentido, também fazemos uso da linguagem, à medida que
formulamos hipóteses para compreender um fenômeno ou fato, ou elaboramos
conjecturas, ideias e suposições em relação a ele.
III. Enfrentar Situações-Problema
O objetivo da Competência III
é avaliar se o aluno sabe "selecionar, organizar, relacionar,
interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar
decisões e enfrentar situações-problema". Enfrentar uma situação-problema
implica selecionar, organizar, relacionar e interpretar dados para tomar uma
decisão. Tomar uma decisão implica fazer um recorte significativo de uma
realidade, às vezes, complexa, ou seja, que pode ser analisada de muitos modos
e que pode conter fatores concorrentes, no sentido de que nem sempre é possível
dar prioridade a todos eles ao mesmo tempo. Selecionar é, pois, recortar algo
destacando o que se considera significativo, tendo em vista certo critério,
objetivo ou valor. Além disso, tomar decisão significa organizar ou reorganizar
os aspectos destacados, relacionando-os e interpretando-os em favor do problema
enfrentado.
Observe-se que enfrentar uma
situação-problema não é o mesmo que resolvê-la. Ainda que nossa
intenção diante de um problema ou questão seja encontrar ou produzir sua
solução, a ação ou operação que se quer destacar é a de saber enfrentar, sendo
resolver, por certo, seu melhor desfecho, mas não o único. Ou seja, o
enfrentamento de situações-problema relaciona-se com a capacidade de o sujeito
aceitar desafios que lhe são propostos, percorrendo um processo no qual ele
terá que vencer obstáculos tendo em vista certo objetivo. Quando bem-sucedido
nesse enfrentamento, pode-se afirmar que o sujeito chegou à resolução de uma
situação-problema. Produzir resultados com êxito no contexto de uma
situação-problema pressupõe o enfrentamento da mesma. Pressupõe encarar
dificuldades e obstáculos, operando nosso raciocínio dentro dos limites que a
situação nos impõe. Tal como em um jogo de tabuleiro, enfrentar uma partida
pressupõe o jogar dentro das regras – o jogar certo – sendo as regras aquilo
que nos fornecem as coordenadas e os limites para nossas ações, a fim de
percorrermos certo caminho durante a realização da partida. No entanto, nem
sempre o jogar certo é o suficiente para que se jogue bem, isto é, para que se
vença a partida, seja porque o adversário é mais forte, seja porque o jogador
não soube, ao longo do caminho, colocar em prática as melhores estratégias para
vencer.
Da mesma maneira, uma
situação-problema traz um conjunto de informações que, por analogia, funcionam
como as regras de um jogo as quais, de maneira explícita, impõem certos limites
ao jogador. É a partir desse dado real – as regras –, que o jogador enfrentará
o jogo, mobilizando seus recursos, selecionando certos procedimentos,
organizando suas ações e interpretando informações para tomar decisões que
considere as melhores naquele momento.
Tendo em vista esses aspectos, o que
a Competência III busca valorizar é a possibilidade de o sujeito, ao
enfrentar situações-problema, considerar o real como parte do possível. Se,
para ele, as informações contidas no problema forem consideradas como um
dado real que delimita a situação, pode transformá-lo em uma abertura para
todos os possíveis.
IV. Construir Argumentação
O objetivo da Competência IV é
verificar se o participante sabe "relacionar informações, representadas em
diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para
construir argumentação consistente". Relacionar refere-se às ações ou
operações por intermédio das quais pensamos ou realizamos uma coisa em função
de outra. Ou seja, trata-se de coordenar pontos de vista em favor de uma meta,
por exemplo, defender ou criticar uma hipótese ou afirmação.
Para isso, é importante saber
descentrar, ou seja, considerar uma mesma coisa segundo suas diferentes
perspectivas ou focos. Dessa forma, a conclusão ou solução resultante da
prática relacional expressa a qualidade do que foi analisado. Saber construir
uma argumentação consistente significa, pois, saber mobilizar conhecimentos,
informações, experiências de vida, cálculos etc. que possibilitem defender uma
ideia que convence alguém (a própria pessoa ou outra com quem discute) sobre
alguma coisa.
Consideremos que convencer significa
vencer junto, ou seja, implica aceitar que o melhor argumento pode vir de
muitas fontes e que as ideias de partida podem ser confirmadas ou reformuladas
total ou parcialmente no jogo das argumentações. Assim, saber argumentar é
convencer o outro ou a si mesmo sobre uma determinada ideia.
Nesse sentido, construir
argumentação significa utilizar a melhor estratégia para apresentar e defender
uma ideia; significa coordenar meios e fins, ou seja, utilizar procedimentos
que apresentem os aspectos positivos da ideia defendida.
Por isso, a Competência IV é
muito valorizada no mundo atual, tendo em vista que vivemos tempos nos quais as
sociedades humanas, cada vez mais abertas, perseguem ideais de democracia e de
igualdade. Em certo sentido, a vida pede o exercício dessa competência, pois
hoje a maioria das situações que enfrentamos requer que saibamos considerar
diversos ângulos de uma mesma questão, compartilhando diferentes pontos de
vista, respeitando as diferenças presentes no raciocínio de cada pessoa. De
certa forma, essa competência implica o exercício da cidadania, pois argumentar
hoje se refere a uma prática social cada vez mais necessária, na medida em que
temos que estabelecer diálogos constantes, defender ideias, respeitar e
compartilhar diferenças.
V. Elaborar Proposta
O objetivo da competência V é
valorizar a possibilidade de o aluno "recorrer aos conhecimentos
desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na
realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade
sociocultural". Recorrer significa levar em conta as situações anteriores
para definir ou calcular as seguintes até chegar a algo que tem valor de ordem
geral. Uma das consequências, portanto, da recorrência é sua extrapolação, ou
seja, podermos aplicá-la a outras situações ou encontrar uma fórmula ou
procedimento que sintetiza todo o processo. Elaborar propostas, nesse
sentido, é uma forma de extrapolação de uma recorrência. Propor pressupõe
tomar uma posição, traduzir uma crítica em uma sugestão, arriscar-se a sair de
um papel passivo. Por extensão, acarreta a mobilização de novas recorrências,
tornando-se solidário, isto é, agindo em comum com outras pessoas ou
instituições. Este agir em comum implica aprender a respeitar, ou seja,
considerar o ponto de vista do outro, articular meios e fins, pensar e atuar
coletivamente.
A sociedade contemporânea
diferencia-se da de outras épocas por suas transformações contínuas em todos os
setores. Dessa maneira, as mudanças sociais, políticas, econômicas, científicas
e tecnológicas hoje se fazem com uma rapidez enorme, exigindo do homem
atualizações constantes. Não mais é possível que solucionemos os problemas
apenas recorrendo aos conhecimentos e à sabedoria que a humanidade acumulou ao
longo dos tempos, pois esses, muitas vezes, se mostram obsoletos. A realidade
nos impõe hoje a necessidade de criar novas soluções a cada situação que
enfrentamos, sem que nos pautemos apenas nesses saberes tradicionais. Por essas
razões, elaborar propostas é uma competência essencial, na medida em que ela
implica criar o novo, o atual. Mas, para criar o novo, é preciso que o sujeito
saiba criticar a realidade, compreender seus fenômenos, comprometer-se e envolver-se
ativamente com projetos de natureza coletiva. Vale dizer que essa competência
exige a capacidade de um sujeito exercer verdadeiramente sua cidadania, agindo
sobre a realidade de maneira solidária, envolvendo-se criticamente com os
problemas da sua comunidade, propondo novos projetos e participando das
decisões comuns.
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