Resumo de Iracema - José de Alencar
§ Iracema: cabelos negros e longos, era a virgem dos lábios de
mel;
§ Martim Soares Moreno: guerreiro branco que representa o
colonizador europeu, era amigo dos pitiguaras, habitantes do litoral,
adversários dos Tabajaras. Os pitiguaras lhe deram o nome de Coatiabo;
§ Moacir: filho de Iracema representa no livro o primeiro
brasileiro;
§ Araquém: o feiticeiro da tribo Tabajara e pai de Iracema;
§ Caubi: irmão de Iracema;
§ Poti: índio Pitiguara, que se considerava irmão de Martim;
§ Batuirité: avô de Poti;
§ Jacaúna: irmão de Poti;
§ Irapuã: chefe dos Tabajaras; apaixonado por Iracema;
Obra escrita em terceira pessoa, onde
existe um narrador-observador, isto é, um narrador que
caracteriza os personagens a partir do que pode observar de seus sentimentos e
comportamento.
Durante uma caçada, Martim se perdeu dos companheiros
pitiguaras e se pôs a caminhar sem rumo durante três dias. No interior das
matas pertencentes à tribo dos tabajaras, Iracema se deparou com Martim.
Surpresa e amedrontada, a índia feriu o branco no rosto com uma flechada. Ele
não reagiu. Arrependida, a moça correu até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade,
quebrando com ele a flecha da paz.
Martim foi recebido na cabana de Araquém, que ali morava com
a filha. Ao cair da noite, Araquém havia deixado seu hóspede sozinho, para que
ele fosse servido pelas mais belas índias da tribo. O jovem branco estranhou
que entre elas não estivesse Iracema, a qual lhe explicou que não poderia
servi-lo porque era quem conhecia o segredo da bebida oferecida ao pajé e devia
prepará-la.
Naquela noite, os tabajaras recepcionavam festivamente seu
grande chefe Irapuã, vindo para comandar a luta contra os inimigos pitiguaras.
Aproveitando-se da escuridão, Martim resolveu ir-se embora. Ao penetrar na
mata, surgiu-lhe à frente o vulto de Iracema. Visivelmente magoada, ela o
seguira e lhe perguntou se alguém lhe fizera mal, para ele fugir assim.
Percebendo sua ingratidão, Martim se desculpou. Iracema pediu-lhe que
esperasse, para partir, a volta, no dia seguinte, de Caubi, que o saberia guiar
pela mata. O guerreiro branco voltou com Iracema e dormiu sozinho na cabana.
Na manhã seguinte, incitados por Irapuã, os tabajaras se
prepararam para a guerra contra os pitiguaras, que estavam permitindo a entrada
dos brancos. Martim foi passear com Iracema. Ele estava triste; ela lhe
perguntou se eram saudades da noiva, que deixara para trás. Apesar da negativa
de Martim, a moça o levou para um bosque silencioso e prometeu fazê-lo ver a
noiva; deu-lhe gotas de uma bebida que ela preparou. Após tomá-las, Martim
adormeceu e sonhou com Iracema; inconsciente, ele pronunciou o nome da índia e
a abraçou; ela se deixou abraçar e os dois se beijaram. Quando Iracema ia se afastando,
apareceu Irapuã, que declarou amor à assustada moça e ameaçou matar Martim.
Diante da reação contrária dela, Irapuã se foi, ainda mais
apaixonado. Apaixonada, porém, estava Iracema por Martim e passou a ficar
preocupada pela vida dele.
Na manhã seguinte, Martim achou Iracema triste, ao
anunciar-lhe que ele poderia partir logo. Para fazê-la voltar à alegria, ele
disse que ficaria e a amaria. Mas a índia lhe informou que quem se relacionasse
com ela morreria, porque, por ser filha do pajé, guardava o segredo da Jurema.
Ambos sofriam com a idéia da separação.
Seguindo Caubi, Martim partiu triste, acompanhado por
Iracema, também triste. Com um beijo, os dois se despediram e o branco
continuou sua caminhada somente com Caubi. Irapuã, à frente de cem guerreiros,
cercou os caminhantes para matar Martim. Caubi se opôs e soltou o grito de
guerra, ouvido na cabana por Araquém e pela filha. Esta correu e assistiu à
cena; Irapuã ameaçava Martim, que se mantinha calmo. A moça quis persuadi-lo a
fugir; ele não aceitou a idéia, resolveu enfrentar Irapuã, apesar de Caubi
provocar o enciumado tabajara para lutar com ele. Quando Irapuã e Caubi iam
começar uma luta corpo a corpo, ouviu-se o som de guerra dos pitiguaras, que
vinham atacar os tabajaras. Chefiados por Irapuã, os índios correram para
enfrentar o inimigo. Só Iracema e Martim não se movimentaram.
Como não encontrasse os pitiguaras – provavelmente escondidos
na mata, Irapuã achou que o grito de guerra fora um estratagema usado por
Iracema para afastá-lo de Martim. Então foi procurá-lo na cabana de Araquém.
Protegendo seu hóspede, o velho pajé ameaçou matar Irapuã se ele levantasse a
mão contra Martim. Para afastar o irado chefe, Araquém provocou o ronco da
caverna que os índios acreditavam ser a voz de Tupã quando discordava do que
acontecia. Na verdade, esse ronco era um efeito acústico que Araquém forjava.
Mediante isso, Irapuã se afastou.
No silêncio da noite, ouviu-se na cabana de Araquém o
grito semelhante ao de uma gaivota. Iracema disse ser o sinal de guerra dos
pitiguaras; Martim reconheceu o som que emitia seu amigo Poti. Iracema ficou
com medo porque a fama da bravura de Poti era conhecida e temida: ele estaria
vindo para libertar seu amigo, destruindo os tabajaras? A moça ficou triste,
mas garantiu fidelidade a Martim, mesmo à custa da morte de seus irmãos de
raça. O branco tranqüilizou-a, afirmando que fugiria, para evitar o conflito. A
índia foi encontrar-se com Poti para lhe dizer que Martim iria com ele,
escondido, a fim de evitar um conflito das tribos inimigas. Antes de sair, ela
ouviu do pai, em segredo, a recomendação de que, se os camandados de Irapuã
viessem matar Martim, ela o escondesse no subterrâneo da cabana, vedado por uma
grande pedra. Não era prudente Martim afastar-se às claras porque poderia ser
seguido. Nisso, apareceu Caubi para alertar a irmã e Martim de que os tabajaras
tencionavam matar o branco. Iracema pediu ao irmão que levantasse a pedra para
ela e Martim entrassem no esconderijo e que ele ficasse de guarda.
Irapuã chegou à porta da cabana, acompanhado de seus
subordinados, todos bêbados, e discutiu com Caubi. Nesse instante, reboou o
trovão de Tupã. O vingativo chefe não se acalmava. Reboou mais uma vez o
trovão, que os índios entenderam como sendo a ameaça de Tupã. Cercaram o chefe
e o levaram de lá, amedrontados.
No interior da caverna, Iracema e Martim ouviram a voz de
Poti, embora sem vê-lo. Ele lhes declarou que estava vindo sozinho para levar
Martim, seu irmãop branco. Por sugestão de Iracema, ficou combinado que Martim
fugiria ao encontro de Poti só na mudança da lua, ocasião em que os tabajaras
estariam em festa e assim ficaria mais fácil os dois evitarem o encontro com o
irado Irapuã.
À noite, na cabana, ausente Araquém, Martim, ao lado de
Iracema, não conseguia dormir: desejava-a, mas ela era proibida. Então, ele lhe
pediu que trouxesse vinho para apressar o sono. Dormiu e sonhou com Iracema,
chamando-a; ela acorreu acordada. Ainda dormindo, sonhou que se abraçavam,
sendo que Iracema o abraçou de verdade. Na manhã seguinte, Martim se afastou da
moça, dizendo que só podia tê-la em sonho. Ela guardou o segredo do abraço real
e foi banhar-se no rio. Mal sabia Martim que Tupã havia acabado de perder sua
virgem.
No final da tarde, quando a lua apareceu, os tabajaras se
reuniram em torno do pajé, levando-lhe oferendas. Iracema dirigiu-se à cabana
do pai para buscar Martim e conduzi-lo até Poti que o aguardava escondido a fim
de levá-lo, livrando-o de Irapuã. Iracema os acompanhou até o limite das terras
tabajaras. Quando Martim insistiu em que ela retornasse para a tribo, ela lhe
revelou que não poderia fazer isso, porque já era sua esposa.
Surpreso, Martim ficou sabendo que tinha sido realidade
o que sonhara. Ao escurecer, interromperam a caminhada e Martim passou a noite
na rede com Iracema. Ao raiar da manhã, Poti, preocupado, os chamou, alertando
que os tabajaras já estavam na sua perseguição, informação que ele colheu
escutando as entranhas da terra. Envergonhado, Martim pediu que Poti
levasse Iracema e o deixasse só, pois ele merecia morrer. O amigo disse que não
o largaria. Iracema apenas sorriu e continuou com eles.
Irapuã e seus comandados chegaram ao local onde estavam os
fugitivos. Acorreram também os pitiguaras, sob a chefia de Jacaúna. Travou-se o
inevitável combate. Jacaúna atacou Irapuã; Caubi, agora com ódio do raptor de
sua irmã, atacou Martim, mas, a pedido de Iracema, o branco simplesmente se
defendeu, pois ela disse que, se Caubi tivesse que morrer, isso aconteceria
pelas mãos dela. Então, Martim deixou Caubi por conta de Poti, que já havia
matado vários tabajaras, e enfrentou Irapuã, afastando Jacaúna. A espada de
Martim espatifou-se no choque com o tacape. Quando Irapuã avançou contra o
banco desarmado, Iracema arrojou-se contra o chefe tabajara e o impediu de
prosseguir a luta. Nesse instante, soou o canto de vitória: Jacaúna e Poti
haviam vencido. Os tabajaras fugiram, levando Irapuã com eles. Iracema chorou
vendo seus irmãos de raça mortos.
Poti retornou à sua taba, às margens do rio, feliz por ter
salvo seu irmão branco. Iracema estava triste por ficar hospedada na trigo
inimiga de seu povo. Ciente disso, Martim resolveu procurar um lugar afastado
para morarem. Puseram-se a caminho o casal e Poti, que fez questão de
acompanhá-los. Acharam um local apropriado. Martim pensava em trazer seus
soldados para se aliarem aos pitiguaras contra os tabajaras.
Na nova rotina diária, Poti e Martim caçavam, Iracema colhia
frutas, passeava pelos campos, arrumava a cabana, sempre na expectativa da
volta de Martim. Grávida, ela aguardava a hora do parto e já não sentia mais
contrariedade por ter saído de sua nação. Com festas, Martim foi introduzido na
tribo pitiguara adotando o nome de Coatiabo.
Com o passar do tempo, Coatiabo começou a entrar em
depressão. Iracema não o fascinava tanto. Ele vivia mais afastado, tomado pelas
lembranças do passado anterior à vida na selva. Ficava olhando as embarcações
passando a longe no mar, sem dar muita atenção à índia.
Certo dia, chegou até à região dos três um índio que, a mando
de Jacaúna, convocou Poti para a guerra: uns brancos haviam se aliado a Irapuã
para combater os pitiguaras. Martim fez questão de ir com o amigo.
Os dois guerreiros partiram sem se despedir de Iracema. Ao
caminharem ainda no território de sua nação, à beira de um lago, Poti fincou no
chão uma flecha de Martim e atravessou nela um goiamum que ele acabara de
abater, sabendo que a índia, ao ver a seta daquele jeito, entenderia o sinal de
que o esposo havia partido. Martim entrelaçou nela uma flor de maracujá. De
fato, quando Iracema foi se banhar no dia seguinte, viu a flecha, entendeu seu
significado e chorou. Voltou triste para a cabana. Todos os dias ela retornava
e tinha confirmação de que Martim estava longe. Seus dias passaram a ser muito
tristes. Numa dessas manhãs, ouviu o som da jandaia que a acompanhava quando
morava entre os seus. Comoveu-se, arrependeu-se de havê-la deixado para trás e
de novo a tornou sua amiga de todas as horas.
Os dois guerreiros retornaram da batalha, vitoriosos. Graças
à participação de Martim, que atuou eficazmente, os pitiguaras venceram, pois,
sem a cooperação da raça branca, haveria o empate das forças indígenas
adversárias.
De novo em sua cabana, Martim e Iracema se amaram como no
início de seu relacionamento. Aos poucos, porém, ele voltou a se isolar triste,
olhando para os horizontes infinitos do mar, com saudade de sua gente. Iracema
se afastava, também triste. Martim sabia que, se voltasse para sua terra, ela o
acompanharia; então, ele estaria tirando dela um pedaço de sua vida, que era a
convivência com seus parentes e amigos nas selvas.
Martim negava que estivesse com saudade da namorada branca
que deixara em sua terra, mas a tristeza de Iracema crescia porque ela não
acreditava na negativa dele; então, a desconsolada índia prometia que sairia da
sua vida tão logo nascesse o filho.
Um dia, apareceu no mar, ao longe, um navio dos guerreiros
brancos que vinham aliar-se aos tupinambás para lutarem contra os pitiguaras.
Poti e Martim armaram uma estratégia de defesa. Esconderam seus guerreiros e
atacaram os inimigos de surpresa. A vitória foi retumbante.
Enquanto Martim estava combatendo, Iracema teve sozinha o
filho, a quem chamou de Moacir, filho da dor. Certa manhã, ao acordar, ela viu
à sua frente o irmão Caubi, que, saudoso, vinha visitá-la, trazendo paz.
Admirou a criança, porém surpreendeu-se com a tristeza da irmã, que pediu a ele
que voltasse para junto de Araquém, velho e sozinho.
De tanto chorar, Iracema perdeu o leite para alimentar o
filho. Foi à mata e deu de mamar a alguns cachorrinhos; eles lhe sugaram o
peito e dele arrancaram o leite copioso para voltar a amamentar. A criança
estava se nutrindo, mas a mãe perdera o apetite e as forças, por causa da tristeza.
No caminho de volta, findo o combate, Martim, ao lado de
Poti, vinha apreensivo: como estaria Iracema? E o filho? Lá estava ela, à porta
da cabana, no limite extremo da debilidade. Ela só teve forças para erguer o
filho e apresentá-lo ao pai. Em seguida, desfaleceu e não mais se levantou da
rede. Suas últimas palavras foram o pedido ao marido de que a enterrasse ao pé
do coqueiro de que ela gostava tanto. O sofrimento de Martim foi enorme,
principalmente porque seu grande amor pela esposa retornara revigorado pela
paternidade. O lugar onde se enterrou Iracema veio a se chamar Ceará.
Martim retornou para sua terra, levando o filho. Quatro anos
depois, eles voltaram para o Ceará, onde Martim implantou a fé cristã. Poti se
tornou cristão e continuou fiel amigo de Martim. Os dois ajudaram o comandante
Jerônimo de Albuquerque a vencer os tupinambás e a expulsar o branco tapuia. De
vez em quando, Martim revia o local onde fora tão feliz e se doía de saudade. A
jandaia permanecia cantando no coqueiro, ao pé do qual Iracema fora enterrada.
Mas a ave não repetia mais o nome de Iracema. "Tudo passa sobre a
terra."
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